A criação da criança: letra e gozo nos primórdios do psiquismo / Child raising: letter and jouissance in the earliest roots of the psychism

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

A tese aborda a produção das inscrições constituintes do psiquismo no laço mãe-bebê sob o marco acadêmico de pesquisa em Psicopatologia Fundamental e teórico-clínico da psicanálise. Considera que a inscrição da letra conceito utilizado por Jacques Lacan para situar as inscrições psíquicas depende da implicação materna na economia de gozo do bebê. Sua transmissão não ocorre pela via direta de um código, mas por uma sucessão de efeitos enigmáticos no laço com a mãe, enquanto Outro encarnado, diante dos quais o sujeito precisará advir, no litoral entre gozo e saber, corpo e linguagem. A partir do dado a ver no corpo do bebê, a mãe formula a suposição de um saber do qual este seria tributário: saber sobre o desejo materno que, à própria mãe, resulta enigmático, mas em relação ao qual o bebê fica implicado. Assim, o dado a ver no corpo do bebê assume o caráter de formação do inconsciente. O psiquismo materno opera aí como um aparelho psíquico inicialmente protético para o funcionamento corporal do bebê, que passa a ter sua economia de gozo atrelada ao saber materno. Os primórdios da constituição psíquica, portanto, deixam em relevo a não correspondência entre corpo e sujeito. A mãe realiza em seus cuidados o "bordado" da letra ao corpo do bebê, ao ocupar-se de sua economia de gozo, ao afetar-se pelo que o afeta. Assim, parasita o funcionamento corporal do bebê com uma estrutura "linguageira" pela qual este, inadvertidamente, se engaja no laço com o Outro a partir daí imprescindível em seu circuito de satisfação. Por isso o bebê também é afetado pela prosódia e alíngua pelas quais comparece o gozo materno no ato da enunciação. Quando o bebê se engaja "gozozamente" nos jogos constituintes do sujeito, a mãe passa a atribuir-lhe a autoria, o saber, sobre esse brincar, transitando permanentemente com ele pelas posições de objeto e sujeito. Ela o supõe sujeito que sabe do brincar; ao mesmo tempo, quando o faz objeto de gozo, goza identificando-se transitivamente ao gozo da passividade do bebê. Portanto, o gozo implicado no laço mãe-bebê não está reduzido nem à angústia da insuficiência nem à medida da potencia fálica. Tampouco ao gozo masoquista da mater dolorosa. Por meio de um gozo situado para além do fálico, pode-se produzir uma criação: a criação da criança aponta a dimensão transitivista dos primórdios do laço mãe-bebê. Se a maternidade pode dar lugar a um ato criativo para uma mulher, por sua vez, a criança tem aí uma brecha para vir a ser criadora no brincar. A relação mãe-bebê não se limita nem ao gozo fálico nem à busca da complementaridade com o gozo do Outro, mas pode dar acesso a um gozo Outro, a uma criação suplementar, que, mesmo se servindo da função paterna, não se detém no complexo de Édipo. Diante do pathos que o bebê em sofrimento dá a ver em seu corpo, o clínico intervém, não por uma observação, mas por uma leitura que possibilita uma decifração. Operando a partir da cifra, da letra que insiste na repetição sintomática, abre lugar para criações suplementares

ASSUNTO(S)

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