A emigração como resultado de um processo socialmente aprendido : um estudo de caso com uruguaios residentes em Campinas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

A presente tese se propõe analisar uma amostra pequena (mas estatisticamente representativa) de residentes uruguaios não naturalizados, tentando verificar os motivos que os levaram a migrar para o Brasil, qual a visão de mundo que acompanha o processo e quais os fatores condicionantes que poderiam ter desencadeado o processo migratório. Pretende, com o estudo deste caso, provocar algumas reflexões sobre o fenômeno migratório em geral e suas implicações sócio-políticas. Em primeiro lugar apresenta-se a metodologia utilizada, que consistiu em observação, entrevistas e pesquisa bibliográfica. Nesta parte do trabalho a maior ênfase reside na justificativa de estar estudando um grupo com o qual o pesquisador de alguma forma se identifica, tomando como base teórica os antecedentes da antropologia interpretativa e da historia oral, que admitem que os pesquisadores estudem suas próprias etnias e suas próprias experiências, num processo que redunda, também, no auto-conhecimento. A seguir, começa a tese propriamente dita, com cinco capítulos e uma conclusão. No primeiro, traça-se um perfil do grupo pesquisado, tomando em conta variáveis como: idade, sexo, situação sócio-econômica antes e depois de emigrar, escolaridade, migrações anteriores, situação familiar antes de emigrar, filiação religiosa e política. No segundo, são realizadas considerações sobre cidadania e política, à luz da literatura atual sobre o tema, que indica uma preferência bastante generalizada a nível mundial, pelo exercício do aspecto civil da cidadania em detrimento do político. Esta tendência constituiu o pressuposto que permitiu analisar os sujeitos de estudo como representativos desta corrente que pode ser chamada de pós-moderna que busca sua inserção no mercado de consumo, apesar da perda dos direitos políticos decorrente do fato de serem estrangeiros. No terceiro capítulo analisam-se algumas particularidades da identidade uruguaia, que estaria fragmentada devido, entre outras coisas, a uma história com demasiadas ficções orientadoras, e um doutrinamento para cultuar o Estado-nação e seus símbolos, que levaria a uma falta de identificação com a comunidade. No quarto, analisa-se o Uruguai como país expulsor de população, que educa, em dois sentidos, às pessoas para emigrar. No sentido amplo, através das várias instâncias de formação de opinião, transmitir-se-iam o desencantamento com a política e os políticos locais, e a difusão de uma imagem de o Uruguai como país pobre e sem perspectivas do qual é preciso sair. No sentido estrito, dar-se-ia uma muito boa escolaridade para as pessoas de forma que conseguissem fácil inserção no mercado internacional de trabalho. Neste capítulo analisam-se algumas peculiaridades do perfil do grupo pesquisado que podem ter influenciado na decisão de emigrar, tais como situações familiares fora do padrão médio uruguaio, a educação religiosa e a filiação partidária própria ou da família, que poderiam ajudar a explicar por que algumas pessoas emigram e outras não, sendo que todas recebem o mesmo tipo de educação, e têm os mesmos problemas de identidade. No quinto capítulo analisa-se o caso particular das pessoas que vieram para o Brasil, que demonstram, nos seus depoimentos orais, um fascínio não observado em outros uruguaios que emigraram para outros países. Há vários fatores que podem explicar o anterior, entre eles o fato de serem vistos como portadores de mais educação e cultura, de estarem ocupando lugares, na pirâmide social, superiores aos das pessoas com sua mesma escolaridade, assim como a cordialidade dos brasileiros, sua descontração e alegria e a possibilidade do exercício do livre arbítrio. Finalmente, a tese propõe um olhar sobre o fenômeno da migração do ponto de vista sócio-político, chamando à reflexão sobre o fato de que, apesar de tratar-se de uma fenômeno que obedece a uma aparente livre escolha do indivíduo, está pré- determinado pelas necessidades conjunturais do capital internacional e acaba sendo uma solução individualista para problemas que afetam a sociedade em geral, fenômeno aparentemente apolítico que acaba sendo de enorme significado político na medida em que desmobiliza os setores desconformes permitindo às forças conservadoras manter o status quo

ASSUNTO(S)

cidadania migração identidade social cultura

Documentos Relacionados