Analise multidimensional de tarefas desempenhadas por cuidadores familiares de idosos de alta dependencia

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1994

RESUMO

Cuidar de um parente idoso incapacitado, gera perturbações para cuidadores e suas famílias. Entretanto, não necessariamente significa estresse e desgaste. Isto depende de fatores objetivos e subjetivos mediados pelos recursos alocados pelo cuidador e o suporte social existente e utilizado pelo mesmo. Dentre estes fatores, as tarefas que envolvem o cuidado para com idosos fragilizados, desempenhadas por cuidadores e, principalmente, o julgamento sobre as mesmas nos traz dados significativos quando se planejam intervenções baseadas em necessidades reais, derivadas da análise de informações sob o ponto de vista do cuidador. Os objetivos deste estudo são: 1. gerar conhecimento sobre o significado das tarefas ligadas ao cuidado de idosos demenciados, altamente dependentes, para seus cuidadores familiares, significado esse definido em termos da similaridade relativa para sua execução, 2. identificar o padrão subjacente aos significados dessas similaridades, definido em termos dos domínios cognitivos a que pertencem esses cuidados, 3. levantar o julgamento sobre a dificuldade relativa, para a realização das tarefas de cuidar em termos do padrão de similaridade subjacente, 4. levantar as tarefas que envolvem maior esforço físico e que são mais demoradas, comparando com a dificuldade na realização das tarefas, 5. levantar as soluções idealizadas pelos cuidadores frente às dificuldades quanto à situação de cuidar. Os cuidadores foram selecionados a partir de três critérios impostos aos idosos de quem cuidavam, os quais foram: receberem cuidados exclusivamente de pessoas da família, serem dependentes para dez ou mais atividades de vida diária e de atividades instrumentais e, apresentarem comprometimento cognitivo em termos de terem escores baixos em um teste de função cognitiva. Dessa forma, os critérios de elegibilidade delimitaram o segmento estudado a 49 cuidadores familiares principais de idosos com comprometimento cognitivo e altamente dependentes, derivados de um estudo longitudinal com 1667 idosos, em curso no município de São Paulo. Destes, 15 cuidadores foram submetidos à entrevista semi-estruturada para levantar dados sócio-demográficos, a rotina desses cuidadores durante a semana e no fim de semana, as tarefas que exigiam esforço físico e as mais demoradas, a idealização de pedidos frente a situação de cuidar e também a 28 cartões-estímulo contendo tarefas de cuidar para que os sujeitos arranjassem por ordem de similaridade e dificuldade (técnica de "Q-sorted cards"). As informações resultantes foram submetidas a análises estatísticas multivariadas.Foram identificadas três tipologias subjacentes à similaridade na realização das tarefas: 1. tarefas que refletem as necessidades dos idosos em termos de cuidados pessoais e instrumentais em oposição a cuidados cognitivo-emocionais, 2. tarefas expressas em relação ao manejo de tempo ou seja, tarefas realizadas rotineiramente em oposição à tarefas realizadas esporadicamente; 3. tarefas que refletem as redes de apoio que dispõe o cuidador em termos das tarefas que realiza sozinho em oposição às tarefas que envolvem outras pessoas, usualmente da família. Quanto às tarefas consideradas mais difíceis dois grupos de tarefas foram observados: O primeiro se refere às tarefas de cuidados pessoais que o cuidador geralmente faz sozinho e o segundo se refere às tarefas ocasionais que envolvem outras pessoas. Os atributos de esforço físico e de demora na realização das tarefas, não estão dentro dos domínios pensados pelos cuidadores e parecem não exprimir todas as dimensões que envolvem o desempenho das tarefas de cuidar. A análise qualitativa da rotina diária descrita pelos cuidadores, confirmou as informações da análise multivariada e permitiu derivar informações sobre o ônus a elas associado, particularmente, no que diz respeito às características dos sujeitos e ao evento cumulativo de tarefas dispersas ao longo do dia que requerem supervisão contínua e à falta de suporte familiar. Os sujeitos apontaram o desejo de ter uma pessoa treinada para ajudar, poder dividir as responsabilidades com alguém da família, ter maior disponibilidade de informação e ter acesso à assistência médico-hospitalar especializada. Os dados são sugestivos da necessidade de se oferecer programas para cuidadores familiares, que abordem a questão das tarefas do cuidar em termos dos domínios cognitivos a que pertencem, refletindo a forma como pensam os cuidadores sobre as tarefas que desempenham diminuindo assim, seu desgaste

ASSUNTO(S)

envelhecimento - aspectos sociais gerontologia idosos - psicologia assistencia a velhice - cuidados e higiene

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