Aninha e outras vozes: a construção discursiva do sujeito em Vintém de Cobre, de Cora Coralina

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

O objetivo geral deste trabalho fundamentado na Análise do Discurso de vertente pecheuxtiana é investigar a construção discursiva do sujeito nos textos de Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha, de Cora Coralina. Tomando como pressuposto central o caráter heterogêneo, disperso e cindido do sujeito, este estudo discursivo se propõe a analisar as inúmeras vozes que atravessam Vintém de Cobre, produzindo o efeito de unidade do sujeito, construído, discursivamente, entre o mesmo e a sua alteridade constitutiva. Nesse sentido e a partir da categoria de heterogeneidades enunciativas (AUTHIER-REVUZ, 1990) , analisa o funcionamento de dois trajetos temáticos (O passado como privação e A redenção pelo trabalho) que, no âmbito dos dizeres sobre infância, sexualidade e trabalho, recortados para este estudo, compõem a unidade imaginária do sujeito dessa enunciação literária. Uma vez que esse sujeito discursivo se produz na relação da língua com o conflituoso contexto de patrimonialização da cidade de Goiás, os referidos trajetos temáticos acionam saberes da memória discursiva e inscrevem efeitos de sentido na direção de uma dessacralização do passado vilaboense (benéfico a uma minoria) e da exaltação do trabalho (propiciado pelo turismo e empreendido por todos e para todos). A partir da análise dos funcionamentos discursivos de determinadas seqüências que atuam como unidades balizadoras desses percursos temáticos, esta pesquisa descritivo-analítico-interpretativista ratifica a hipótese de que, em Vintém de Cobre, a manifestação discursiva memorialista produz uma subjetividade identificada com o que se pode denominar formação discursiva memorialista de Goiás. Na mesma direção, assinala que esse sujeito constituído no processo de identificação com o saber dessa formação discursiva assume, predominantemente, uma posição favorável à patrimonialização de Goiás Velho e à adaptação da cidade à nova realidade instituída por esse processo de tombamento/monumentalização. Todavia, diante da pluralidade do interdiscurso, que incide no fio discursivo de Vintém de Cobre, este trabalho acentua que o dizer constitutivo do sujeito nessa materialidade discursiva oscila entre relações de confronto e aliança, estabelecidas com os saberes representativos de formações discursivas outras. Sendo assim, assinala a ocorrência de furos no processo de interpelação ideológica do sujeito, que se apresenta, portanto, necessariamente, marcado pela contradição. Como indícios do caráter contraditório do sujeito em Vintém de Cobre, este estudo reconhece, ao lado de discursos que derivam para a dessacralização de um passado (benéfico somente para alguns) e para a afirmação do trabalho (advindo da exploração turística e empreendido por todos e para todos), a emergência de dizeres que, nesta discursividade, acabam convergindo sentidos para a manutenção da ordem socioeconômica do passado de Goiás, pautada na exploração do trabalho e em fortes relações de poder. Na esteira de elementos representativos dos efeitos da heterogeneidade discursiva sobre a constituição do sujeito, reafirma-se, neste trabalho, que a coerência do dizer e do sujeito produzido por ele em Vintém de Cobre situa-se na ordem do imaginário. Uma ordem que abriga a contrapartida necessária a um efeito de totalidade do sujeito, visto que ele resiste a uma interpelação ideológica perfeita e assume, predominantemente (mas não exclusivamente!), uma dada posição.

ASSUNTO(S)

sujeito análise do discurso subject discourse analysis cora coralina heterogeneidade discursiva coralina, cora, 1889 1985 - crítica e interpretação linguistica discursive heterogeneity

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