Aspectos psicológicos em mulheres com câncer ginecológico submetidas à braquiterapia num hospital universitário de Ribeirão Preto: um estudo clínico-qualitativo / Psychological aspects in women with gynecological cancer submitted to brachytherapy at a university hospital in Ribeirão Preto: a clinicalqualitative study

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Uma das modalidades de tratamento para mulheres acometidas pelo câncer ginecológico é a radioterapia interna, também conhecida como braquiterapia. Caracteriza-se pela colocação de materiais radioativos junto ao tumor. No caso daquele tipo de câncer, para se efetuar a irradiação, é necessário introduzir um aplicador dentro da vagina. Este tratamento pode ser bastante desconfortável para a mulher, tanto no momento da aplicação, quanto após a mesma. Neste sentido, estudos sobre o tema apontam não apenas para efeitos colaterais físicos, mas também para conseqüências psicológicas na qualidade de vida de pacientes tratadas por braquiterapia. Entretanto, tais estudos são ainda incipientes, tendo maior concentração na área de Enfermagem. É quase inexistente uma produção de caráter psicológico que aprofunde o conhecimento a respeito de questões emocionais em mulheres submetidas a esse procedimento invasivo. Sendo assim, esta pesquisa qualitativa objetivou compreender aspectos psicológicos em mulheres com câncer ginecológico submetidas a essa modalidade radioterápica. Para tanto, foram realizadas sete entrevistas abertas com mulheres em tratamento junto ao Serviço de Radioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo. As entrevistas foram áudio-gravadas, transcritas na íntegra e submetidas à análise de acordo com o método clínico-qualitativo, utilizando-se a psicanálise como marco teórico para a interpretação dos dados. Foi elaborado um diário de campo como instrumento auxiliar de pesquisa. Após realização das leituras flutuantes e análise do material, observou-se que a braquiterapia é sentida pelas mulheres como uma agressão, gerando intensa angústia, desespero e raiva. A manipulação na região vaginal, com entradas e saídas de objetos (aplicador, sonda, etc.), desencadeia vivências e efeitos físicos desagradáveis, como dor, ardência urinária, sensação de queimação. Em uma perspectiva psicanalítica, o tratamento é vivido como um objeto hostil e persecutório que é introduzido na intimidade sexual, afetando a mulher em sua feminilidade. A posição física em que as mulheres permanecem para receber a irradiação acarretou sensação de submissão, vergonha e exposição de sua intimidade. Ainda com relação a este tratamento, foram feitas associações e comparações com a experiência anterior de gravidez/parto, possivelmente pela existência de conflitos e questões inconscientes relacionadas ao nascimento, mas também à morte concretizada pela doença grave. As mulheres atribuíram significados ao surgimento do câncer ginecológico relacionados à vivência de depressão, à sexualidade e à gravidez/parto, sendo que se evidenciou uma culpa inconsciente pela doença. Para enfrentarem as vicissitudes do tratamento, as mulheres tiveram que se basear mais no princípio de realidade - buscar a remissão da doença através do tratamento e da confiança na equipe - do que no princípio de prazer (ou evitação do desprazer), mas com considerável sofrimento psíquico. Neste sentido, considera-se relevante pensar numa assistência psicológica às pacientes, com o intuito de minimizar possíveis efeitos psicológicos adversos associados à braquiterapia.

ASSUNTO(S)

braquiterapia método clínico-qualitativo clinicalqualitative method brachytherapy câncer ginecológico gynecological cancer psychological aspects aspectos psicológicos

Documentos Relacionados