Avaliação toxicológica do extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10.

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Alguns microrganismos possuem a capacidade de produzir substâncias que podem influenciar no desenvolvimento de outros microrganismos. Desde os anos 50 é relatada a capacidade de várias espécies de bactérias do gênero Bacillus de produzir substâncias com atividade antimicrobiana como peptídeos, também denominados de bacteriocinas e enzimas como a subtilisina, subtilina, as proteases e as termolisinas. Muitos desses peptídeos e enzimas têm sido caracterizados bioquimicamente e geneticamente. Embora sejam conhecidas, a função estrutural, a biossíntese e modo de ação de alguns peptídeos antimicrobianos e enzimas, muitos aspectos desses compostos ainda permanecem desconhecidos. Frente a essa realidade, o presente estudo investigou a atividade antibacteriana e antifúngica e a toxicidade in vitro e in vivo do extrato bruto de Bacillus amyloliquefaciens R 10. O extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10 foi obtido por técnicas de precipitação de proteínas, centrifugação, diálise e esterilização por filtração. A padronização das análises toxicológicas e de atividade antibacteriana e antifúngica foi realizada pela determinação da concentração de proteínas do extrato bruto de Bacillus amyloliquefaciens R 10. O ensaio de atividade antibacteriana e antifúngica foi realizado pela técnica de difusão em poços. Dentre os diferentes indicadores utilizaram-se bactérias Gram-positivas (Listeria monocytogenes NCTC 098630, Staphylococcus aureus ATCC 25923 e Enterococcus faecalis ATCC 29212), Gram-negativas (Escherichia coli ATCC 25922, Salmonella typhimurium ATCC 14028, Enterobacter aerogenes ATCC 13048 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 9027), fungos (Aspergillus fumigatus ATCC 9197 e Penicillium commune J 238) e leveduras (Rhodotorula muscilaginosa J 350, Pichia anomala DSM 70255 e Kluveromyces marxianus ATCC 16045). O extrato bruto foi testado nas concentrações de 5, 20, 40, 60 e 80 g de proteínas, em ambos os ensaios de atividade antimicrobiana. Para avaliar a toxicidade do extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10 foram utilizados ensaios in vitro (genotoxicidade) e in vivo (toxicidade aguda em ratos e camundongos e toxicidade de doses repetidas em camundongos). A investigação da genotoxicidade com células VERO ATCC-CCL 81 foi realizada pelo ensaio Cometa, utilizando-se 60, 80 e 100 g de proteínas do extrato bruto. Para análise toxicológica aguda em ratos Wistar (Rattus norvegicus), utilizou-se um grupo de 10 animais (5 machos e 5 fêmeas) tratado com o extrato bruto, por gavagem oral, com a dose de 2.000g/kg (dose máxima recomendada). Os animais foram pesados no início e no final do experimento e observados por 14 dias quanto aos possíveis sinais de toxicidade (morte, coma, convulsão, prostração, ataxia, tremores, alteração na pele ou pêlo, alteração nas mucosas, diarréia e salivação). Para análise toxicológica aguda em camundongos Swiss (Mus musculus), utilizou-se o extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10 por gavagem oral, numa única administração, nas doses de 5, 50, 500 e 5.000 g/kg a 80 camundongos (40 machos e 40 fêmeas, contendo 10 animais por grupo). Outros 20 camundongos (10 machos e 10 fêmeas) receberam veículo (salina, NaCl 0,9%), pela mesma via. Para análise toxicológica de doses repetidas em camundongos Swiss (Mus musculus) utilizou-se o extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10 administrado por gavagem oral, por um período de 90 dias nas doses de 50, 500 e 5.000 g/kg em 120 animais (60 machos e 60 fêmeas, contendo 20 animais por grupo). Outros 40 camundongos (20 machos e 20 fêmeas) receberam veículo (salina, NaCl 0,9%), pela mesma via. Constatou-se nos ensaios de atividade antimicrobiana que o extrato bruto de Bacillus amyloliquefaciens R 10 não apresentou atividade contra os bolores e as leveduras nas concentrações testadas, e somente apresentou atividade antibacteriana frente Listeria monocytogenes NCTC 098630. O extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10 não foi genotóxico para células VERO na concentração de 60g/ml, porém apresentou genotoxicidade nas concentrações de 80 e 100g/ml. Na análise toxicológica aguda em ratos a dose letal 50 (DL50) foi superior a 2.000g/kg. Na análise toxicológica aguda em camundongos, o extrato bruto apresentou boa tolerabilidade e reduzidos efeitos tóxicos agudos importantes, com DL50 superior a 5.000g/kg. Já na análise toxicológica de doses repetidas, a non toxic adverse effect level (NOAEL) para o extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10 situa-se entre as doses de 50 e 500 g/kg. Os resultados indicam que o extrato bruto antibacteriano de Bacillus amyloliquefaciens R 10 apresenta um grande potencial como conservador natural de alimentos, dada sua marcante atividade antilisterial e sua relativa segurança toxicológica.

ASSUNTO(S)

agentes antibacterianos toxicidade - testes ciencia de alimentos bacillus amyloliquefaciens

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