Biologia populacional e ecologia comportamental da baleia franca, Eubalaena australis (Desmoulins, 1822), Cetacea, Mysticeti, no litoral sul do Brasil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

As baleias francas austrais (Eubalaena australis) eram historicamente distribuídas do Nordeste ao Sul do Brasil, mas a intensa caça comercial realizada até 1973 quase levou-as à extinção. De 1986 a 2003 foram realizados sobrevôos ao longo da costa sul do Brasil principalmente para fotoidentificação individual da população remanescente de baleias francas. Um total de 481 baleias (223 grupos) foi avistado em 16 sobrevôos durante o pico de abundância de baleias. Os grupos consistiram principalmente de dois indivíduos (67,3%, n=150), mas grupos de até oito baleias foram avistados. Foram registradas 149 avistagens de pares de fêmea com filhote, e 183 de indivíduos não-acompanhados de filhotes. As baleias estavam concentradas entre os ‘bins’ (unidades de 12 minutos de latitude) J (Garopaba) e N (Araranguá), com pico de avistagem em L (Laguna). A distribuição dos pares de fêmea e filhote e dos indivíduos não-acompanhados está um pouco sobreposta, mas uma principal área de concentração foi identificada, especialmente para as fêmeas com filhotes, o que coincide com a área de agregação previamente reconhecida no Brasil. Em 2002 e 2003, anos em que foram realizados sobrevôos mensais, as baleias chegaram na região em Julho/Agosto, atingindo pico em Setembro, e declinando em Outubro/Novembro. Padrões de reavistagem intra-anual foram obtidos a partir de 39 baleias reavistadas. A maioria das reavistagens foi de fêmeas com filhotes, reavistadas pelo menos uma vez em dois sobrevôos consecutivos. Até 2003, o Catálogo Brasileiro de Fotoidentificação das Baleias Francas tem 315 baleias identificadas individualmente, das quais 31 foram reavistadas em outros anos (23 fêmeas, 3 filhotes de um ano e 5 baleias de sexo e idade desconhecidos). Nenhuma reavistagem ocorreu antes de 1994 e 71% (n=24) foram registradas em 2003. Das 120 fêmeas identificadas no Brasil, 19,2% (n=23) têm mostrado algum nível de fidelidade de área. O intervalo modal observado entre nascimentos foi de três anos, consistente com o sucesso reprodutivo. De 1997 a 2003, o número de fêmeas reprodutivas na área Central sobrevoada aumentou a uma taxa de 29,8% por ano (95% CL 15,7, 44,0) e de 1987 a 2003 14% por ano (95% CL 7,1, 20,9). Ambas as taxas são significativamente diferentes de zero (t=4,133, p<0,009 e t=4,06, p<0,004, respectivamente), e mais altas que as taxas observadas para as baleias francas em outras áreas de concentração reprodutiva no Atlântico Sul. A abundância das baleias francas na costa sul do Brasil foi estimada em no máximo 555 indivíduos, utilizando-se a Taxa Anual Reprodutiva (de uma população estável). Este número reflete o aumento observado na população em anos recentes, porém devido à estimativa não ter incorporado parâmetros como mortalidade e/ou emigração e imigração, deve ser utilizado com cautela, e considerado somente uma estimativa preliminar. As interações entre as baleias francas e as embarcações de turismo foram estudadas em 2002, utilizando-se um teodolito. Foram realizadas 65,5 horas de observações antes, durante e depois dos encontros entre fêmeas com filhotes e embarcações, durante 25 cruzeiros de “whalewatching” em cinco enseadas diferentes. A média da velocidade de natação das baleias antes, durante e depois dos encontros com embarcações variou de acordo com a enseada e a fase de aproximação, (t=4,133, p<0,009 e t=4,06, p<0,004, respectivamente). Não foi encontrada nenhuma alteração significativa nas velocidades médias de natação nestas três fases (p>0,05), porém houve variação significativa durante alguns intervalos de tempo. As probabilidades previstas das baleias nadarem em direção aos barcos em função do tempo foram significativamente próximas aos valores esperados na Gamboa e Ibiraquera (p>0,05) porém variaram significativamente durante alguns intervalos em Garopaba, Silveira e Rosa. As baleias reagiram tanto a distâncias curtas e longas das embarcações, e as reações variaram de acordo com as enseadas. Apesar da dificuldade de avaliar impactos a longo prazo, nenhuma evidência clara sobre distúrbios a esta população foram observados durante este estudo, sugerindo que as embarcações de “whalewatching” que operam segundo as legislações Brasileiras não alteram o comportamento das mesmas. Se o número de baleias francas continuar a aumentar, pode-se esperar que as baleias francas reocupem sua área de distribuição histórica ao longo de cerca de 2400km de costa, aumentando a possibilidade de conflitos entre as baleias francas e atividades humanas. O uso de técnicas de rastreamento com teodolito, se realizadas em conjunto com as usadas para o monitoramento a longo prazo dos indivíduos e seus padrões de uso de habitat poderão permitir aos cientistas uma melhor possibilidade de manejo das atividades de “whalewatching” de modo a assegurar a conservação apropriada da espécie alvo e a sustentabilidade da indústria deste turismo a longo prazo.

ASSUNTO(S)

eubalaena australis : comportamento animal santa catarina rio grande do sul ecologia animal

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