Clélia Ferraz Pereira de Queiroz
2006O foco desta tese é o papel dos movimentos e do contato no campo da comunicação. Defende a hipótese de que movimentos são informações e percepção, e fazem do corpo um corpomídia. A estreita relação entre movimento e contato confere papel fundamental aos processos de desenvolvimento do organismo. Para compreender como o corpo está implicado na comunicação, portanto, é preciso pesquisá-lo no âmbito da cognição. Para sustentar que movimento é informação e percepção, faz-se necessário explicar suas relações e implicações na comunicação corpo-ambiente. O objetivo da pesquisa é entender movimento e contato como linguagem em rede não hierarquizada de informação e comunicação, com o compromisso de uma nova epistemologia de ciência aplicada ao corpo. No contexto do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, as teorias semióticas, as ciências da complexidade e as ciências cognitivas são as mais indicadas à pesquisa e embasam, por isso, o quadro teórico de referência. Propomos então fundamentar a abordagem da pesquisa aqui apresentada com a teoria corpomídia desenvolvida pelas Professoras Doutoras Christine Greiner e Helena Katz, que abrange todos os processos de comunicação social. No conceito semiótico corpomídia, o termo técnico mídia difere da noção do senso comum. Desse empreendimento, surgem as condições necessárias para se realizar investigações sobre o corpo na área da Comunicação. Os conceitos de mídia e midiática da era da informação muitas vezes reproduzem em seu bojo a metáfora corpo-máquina tão disseminada na sociedade de consumo. E sustenta um tratamento para corpo dentro de uma visão mecanicista, dualista e reducionista, que não consegue explicar os processos de comunicação corpo-ambiente. A necessidade de se focar a questão dos movimentos e do contato na comunicação se deve ao fato de a bibliografia disponível na área abordar o corpo a partir da concepção de corpo como um processador-de-informação. Os estudos que encaminham a proposta do corpo como corpomídia permitem escapar das formulações dualistas e daquelas nas tais o corpo é descartável, uma vez que o apresentam como um objeto e reprodutor, debaixo da concepção corpo-máquina. Trata-se aqui de abordar o corpo como produtor de conhecimento. Partindo de processos teórico-práticos, o campo da comunicação foi explorado através dos processos de conhecimento que se estabelecem quando o corpo se comunica. Para tal, foi indispensável contar com os pressupostos teóricos do neurocientista Gerald Edelman e da cientista cognitiva Esther Thelen. Com eles, tornou-se possível trabalhar fora da habitual separação entre natureza e cultura que atrapalha a compreensão da comunicação como um traço evolutivo do corpo