Das ruas ao internato: experências infantís - Abrigo de menores do estado de Santa Catarina - Florianópolis (1950-1972)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

A internação de rapazes entre 7 e 18 anos, no período de 1950 a 1972, no Abrigo de Menores do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis, inaugurado em 1940, através de Sentenças de Abandono emitidas pelo Juiz de Menores, expressava uma forma como certos segmentos da sociedade (Juízes, Jornalistas, Políticos, Moradores) lidavam com algumas características do modo de vida da infância pobre (carência financeira, uso das ruas como espaços privilegiados de sociabilidade) e de suas famílias (pais separados, falecidos, filhos convivendo com parentes, mães trabalhadoras). Entendiam que os internados no Abrigo, instituição pública administrada pelos católicos Irmãos Maristas, seriam afastados daquelas condições e transformados em pessoas úteis, disciplinadas, ordeiras, trabalhadoras. Por vezes, as famílias recorriam à internação de seus meninos, pela falta de outros recursos assistenciais que garantissem condições melhores (alimentação, ensino, profissionalização) àqueles. O funcionamento do Abrigo se ligava à forma como os Maristas, Juiz e Governo do Estado se relacionaram ao longo do período, culminando com a saída dos Maristas em 1973 do Educandário 25 de Novembro (o Abrigo mudou de nome em 1969). Na análise desses temas, utilizei-me de sentenças, relatórios, ofícios trocados entre as autoridades e jornais. Busquei perceber como se deu a construção social de uma infância abandonada e as tensões envolvendo os projetos voltados aos internos no Abrigo. A experiência de ter sido criança pobre e interna do Abrigo constituía outra dimensão da história social que atribuí grande atenção. A partir de relatos orais de adultos, ex-Abrigados, apareceram-me questões de como essas pessoas lidaram e interpretaram as vivências infantis, antes e durante a internação, ao longo de suas trajetórias. Os internos assim foram aparecendo como protagonistas sociais, como sujeitos históricos que constituíram o processo social e se construíram nele. Eles tinham semelhanças e peculiaridades como filhos, pequenos trabalhadores, auxiliares da manutenção da casa, abandonados, como pessoas que brincaram, se divertiram, sofreram, tiveram afeto, tristezas, alegrias, se deslocaram nos espaços públicos, resistiram, desenvolveram estratégias de bem viver, e que dentro do internato não perderam a dimensão de sujeitos, mas reconfiguraram as formas de expressarem-se enquanto tal, em relação às rotinas, às regras impostas. A análise de prontuários, Sentenças de Abandono e dos relatos orais, sugeriram um campo plural de olhares sobre experiências sociais de uma infância empobrecida, tema central deste trabalho.

ASSUNTO(S)

criança menor assistência a menores - florianópolis, sc adolescente abrigado internato florianopolis historia experiencia infantil santa catarina experiência social infancia rua abrigo de menores controle social

Documentos Relacionados