Desempenho cognitivo em alcoolistas e prontidão para mudança

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Esta tese de doutorado objetivou realizar uma pesquisa sobre os prejuízos neuropsicológicos decorrentes do uso de álcool, comparando o desempenho de dependentes de álcool internados para tratamento e pessoas da população geral sem esta dependência, para tal realizou-se quatro estudos. O primeiro aborda aspectos teóricos acerca dos prejuízos cognitivos em alcoolistas, focando primordialmente função executiva e o uso do Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) para avaliar esta função. O segundo relata um estudo empírico realizado com 61 dependentes de álcool, do sexo masculino, com escolaridade mínima relatada a 5 série do Ensino Fundamental. Os instrumentos utilizados foram: entrevista estruturada para coleta de dados sócio-demográficos; SADD; URICA; Screening Cognitivo do WAIS-III; Teste de Figuras Complexas de Rey e WCST. Este estudo detectou que 72,81% da amostra apresenta uma dependência grave e 65,5% encontra-se no estágio motivacional da précontemplação. Os participantes deste estudo apresentaram uma possível lentificação psicomotora. Identificaram-se, também, prejuízos na capacidade de percepção visual e memória imediata. De acordo com as normas do WCST para população geral esta amostra apresentou um declínio na capacidade de flexibilidade mental. O terceiro estudo comparou o desempenho cognitivo, por meio dos mesmos instrumentos aplicados no estudo anterior, de alcoolistas e participantes da população geral sem esta dependência, mostrando que o grupo de alcoolistas (GA) denota uma dependência grave em relação ao álcool, sendo que deste grupo 92,1% referem ter ou ter tido algum familiar com problemas associados ao consumo de bebidas alcoólicas enquanto que no grupo controle (GC) apenas 41,5% afirmaram esta variável. Em relação aos hábitos de bebida 91,1% do GA costuma beber diariamente e do GC, dos que bebem, o fazem esporadicamente. Quanto aos sintomas de abstinência do álcool o GA já manifestou tremores (57,4%) e insônia (28,7%), ao passo que no GC um participante já experimentou sudorese e um irritabilidade. No GA 76,2% consomem tabaco e no GC 9,8% usam esta substância. A maioria (59,4%) do GA estava abstinente entre 8 e 15 dias no momento da avaliação e o GC estava em sua maioria (43,9%) há mais de 60 dias. No que tange ao desempenho neuropsicológico, principalmente no WCST e no Teste de Figuras Complexas de Rey, verificou-se que há um declínio de funções cognitivas em pacientes dependentes de álcool quando comparados seus resultados a de pessoas não dependentes, sendo que o GA sugere uma lentificação psicomotora. O quarto estudo se refere a um seguimento realizado com o GA (n=101), no qual foi realizado uma entrevista por telefone, após 3 meses da alta hospitalar, para se identificar quantos se mantiveram abstinentes neste período, independente do tratamento realizado. Constatou-se que 55,4% conseguiram ficar abstinentes e 37,6% recaíram. Utilizando-se os resultados da avaliação realizada durante a internação se fez uma regressão logística, a qual mostrou que os pacientes que referiram já ter experimentado insônia como sintoma de abstinência apresentam 6,25 vezes chance de recair do que os que não experimentaram este sintoma. Observou-se, também, que um pior desempenho na cópia do Teste de Figuras Complexas de Rey aumenta a chance de o paciente recair, há para cada ponto 1,089 vezes chance de recair. Os resultados desta tese demonstram que a dependência do álcool interfere de forma negativa nas funções cognitivas como memória, percepção visual, desempenho psicomotor e flexibilidade mental.

ASSUNTO(S)

alcoolismo cogniÇÃo psicologia lobo frontal neuropsicologia

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