Efeitos comportamentais do diazepam em micos-estrela submetidos a dois testes de medo/ansiedade : confronto com predador versus ameaça humana

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Apesar dos distúrbios de ansiedade apresentarem uma alta prevalência na nossa sociedade, as opções de tratamento farmacológico ainda são restritas e apresentam uma série de efeitos adversos indesejados. Nesse sentido, modelos etológicos se aproximam mais do que realmente ocorre na natureza e podem ter seus resultados melhor extrapolados para humanos, apesar de testes desta natureza serem escassos em primatas não-humanos. Calitriquídeos, em particular, sofrem altas taxas de predação, mantendo suas estratégias de defesa mesmo em cativeiro. Seu amplo espectro de indicadores comportamentais representa uma oportunidade ímpar para se avaliar o comportamento emocional, podendo ser utilizados como ferramenta para estudo do medo/ansiedade. O presente estudo, portanto, teve como objetivo avaliar as respostas comportamentais de micos-estrela (Callithrix penicillata) submetidos aos testes de Ameaça Humana (AH) e Confronto com Predador (CP), sob efeito do ansiolítico benzodiazepínico diazepam (DZP). Cada sujeito (n=13) foi submetido pseudo- randomicamente a quatro sessões de habituação. Em seguida, para cada um dos dois testes, os sujeitos foram submetidos a outras quatro sessões de confronto (0; 1; 2 e 3 mg/kg de DZP). Cada sessão consistiu de 15-min de observação: 5-min antes, 5-min durante a exposição a um experimentador humano ou a um gato taxidermizado (gato-do- mato) e 5-min após a exposição. A administração de todas as doses de DZP induziu uma diminuição significativa na atividade locomotora, antes, durante e depois do confronto, sugerindo um possível efeito sedativo deste fármaco. Foi então realizado um novo experimento onde os sujeitos (n=10) foram submetidos novamente a quatro sessões de confronto por estímulo, porém, com doses mais baixas de DZP (0; 0,10; 0,25 e 0,50 mg/kg). Uma rápida exposição (5 min) ao experimentador induziu um aumento significativo nas taxas de olhares diretos e vocalização de alarme, além de uma redução nos níveis de proximidade e comportamentos deslocados. A administração de DZP reverteu, significativamente, apenas a frequência de olhares diretos. O confronto com o gato taxidermizado alterou, de forma significativa, a taxa de olhares diretos, a qual não foi re-estabelecida pelo DZP. Além disso, não foram observadas diferenças significativas em cada uma das respostas, quando na presença destes dois estímulos, sugerindo que estes exercem um efeito similar. Contudo, no conjunto das alterações observadas, o experimentador humano pareceu ser mais eficaz, podendo isso ser devido em parte aos procedimentos rotineiros de captura/manipulação. Já para o gato taxidermizado, vários fatores podem ter contribuído para a baixa responsividade, como a exposição repetida, o confronto realizado em um ambiente altamente familiar, a presença de um outro animal no viveiro, o uso de sujeitos com exposição prévia ao estímulo e o uso de um objeto que não é uma ameaça real. Diferenças na duração da exposição e nos ambientes físico e social, também podem ter influenciado as discrepância vistas entre os resultados deste estudo dos descritos na literatura. Dessa forma, os testes de AH e CP podem vir a ser boas ferramentas experimentais para a avaliação do medo/ansiedade e o desenvolvimento de novas compostos com potencial valor terapêutico. Porém, novos estudos, avaliando os fatores discutidos, são necessários para uma melhor elucidação dos aspectos de medo/ansiedade sendo avaliados nestes testes.

ASSUNTO(S)

mico-estrela ciencias da saude testes experimentais ansiedade efeitos comportamentais diazepam

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