Entre o seco e o molhado, do costão ao manguezal : distribuição de gastropodes da familia Littorinidae em gradientes vertical e horizontal no litoral do Estado de São Paulo
AUTOR(ES)
Andre Murtinho Ribeiro Chaves
DATA DE PUBLICAÇÃO
2002
RESUMO
A região entremarés constitui uma interface entre os ambientes marinho e terrestre, selecionando adaptações peculiares nas populações de organismos que nela habitam. Dentre estes organismos se destacam os litorinídeos ou litorinas, gastrópodes prosobrânquios, raspadores de microalgas. No Brasil, ocorrem três espécies desta família: Nodilitttorina lineolata (pertencente ao complexo ziczac), Littoraria fiava e Littoraria angulifera. O objetivo principal deste trabalho foi compreender a distribuição destas três espécies em dois gradientes - vertical (dessecação) e horizontal (estuarino). O estudo foi realizado em oito costões da região de Ubatuba e em uma área de manguezal em Cananéia, São Paulo, Brasil. Os costões diferiram quanto à exposição de ondas (batidos ou abrigados) e aporte de água doce (com ou sem a influência de um rio). A pesquisa foi dividida em três partes: 1) nos oito costões foram feitos transectos na sua extensão vertical (orla do infralitoral à orla do supralitoral), dividindo-os em sete níveis horizontais, nos quais cinco parcelas quadradas eram sorteadas, coletando todos os indivíduos de N. lineolata e L. fiava encontrados no interior do quadrado. Em dois destes costões, este método foi repetido após chuvas e em um deles foi novamente executado após uma estação chuvosa; 2) no supralitoral do costão da Praia Dura foram escolhidos onze pontos distantes 50 m entre si num gradiente estuarino, sendo amostradas cinco parcelas em cada ponto, coletando todos os litorinídeos presentes na área delimitada pela parcela. Neste local as populações de N. lineolata e L. fiava foram comparadas em situações de micro-simpatria e micro-alopatria; 3) no manguezal de Cananéia foi realizado um censo populacional das espécies de Littoraria em três pontos ao longo de um gradiente salino. N. lineolata ocorreu em todos os costões estudados, com maiores densidades naqueles mais expostos às ondas e com alta salinidade (35%0). L. fiava se restringiu a costões sujeitos à influência de água doce (24 a 35%0) e mais abrigados das ondas, habitando ainda manguezais e gramas marinhas. L. angulifera foi a espécie predominante em manguezais (salinidade <27%0), ocorrendo também em gramas marinhas. Nos costões, as densidades de N. lineolata foram maiores e os tamanhos da concha tiveram uma distribuição em "U" ao longo do gradiente vertical. Já L. angulifera, apresentou maiores densidades que L. fiava nos manguezais, com seus tamanhos distribuídos em um gradiente crescente em direção ao supralitoral. A distribuição de abundância neste gradiente vertical seguiu padrão inverso aos apresentado pelo tamanho da concha, enquanto que agregação e tamanho estão diretamente relacionados. Quando em coexistência, N. lineolata e L. fiava têm uma redução do tamanho médio e da amplitude de tamanhos. São apresentadas algumas hipóteses para explicar os padrões encontrados, além de sugestões para futuros trabalhos. Palavras-chave: Nodilittorina lineolata, Littorariafiava, Littoraria angulifera, distribuição, gradiente de tamanho de concha, coexistência, Littorinidae, costão, estuário, manguezal, Brasil
ASSUNTO(S)
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