Estudo morfofuncional e molecular do baixo trato urinário de camudongos diabéticos / Functional, morphological and molecular evaluation of the lower urinary tract diabetic mice

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

As disfunções do baixo trato urinário estão entre as complicações mais comumente associadas ao diabetes mellitus, e incluem urgência miccional, alterações da freqüência e incontinência urinária, hiperatividade e hipertrofia da bexiga, tornando complexos os procedimentos diagnósticos e terapêuticos. O mediador primário para a contração do músculo liso detrusor é a acetilcolina (Ach), sendo suas ações mediadas, principalmente, pelos receptores muscarínicos do subtipo M3 e M2, principalmente o subtipo M3. O receptor P2X1, ativado pelo trifosfato de adenosina (ATP), também participa da contração do detrusor; porém, com menor importância. Ambos promovem a contração através da mobilização de Ca2+ citosólico, seja pela formação de inositol trifosfato (IP3), seja pelo influxo de Ca2+ extracelular via canais de Ca2+ tipo L. Além destes mecanismos, os receptores M3 podem desencadear resposta contrátil independente da concentração de Ca2+ citosólico, através da sensibilização ao mesmo, a qual ocorre, principalmente, pela ação da enzima Rho-kinase. A despeito de sua grande relevância na contração da bexiga, até o presente, poucos estudos abordaram as alterações na homeostase do Ca2+ celular resultantes do diabetes mellitus. Além disso, a contribuição da uretra para a cistopatia diabética ainda é pouco compreendida e estudada. O objetivo deste trabalho foi investigar as alterações funcionais, morfológicas e moleculares do baixo trato urinário em camundongos C57BL/6 com diabetes induzida por estreptozotocina, bem como compreender o papel da uretra na fisiopatologia desta desordem. Para tanto, realizamos os seguintes experimentos: 1) análise histomorfométrica da bexiga; 2) estudo cistométrico; 3) concentração-resposta ao agonista muscarínico carbacol (na ausência e na presença do Y27632 ou nifedipina), ao agonista purinérgico ?,?-metileno ATP, cloreto de potássio (KCl) e ao cloreto de cálcio (CaCl2), assim como curvas freqüência-resposta à estimulação elétrica (1-32 Hz, 80 V, 10 segundos) em detrusor isolado, e montado em banho para órgão preenchido com solução de Krebs Henseleit; 4) curvas concentração-resposta ao agonista ?1-adrenérgico fenilefrina, bem como de relaxamento ao nitroprussiato de sódio, tadalafil e Bay 41-2272, em anéis de músculo liso de uretra; 6) expressão de RNAm de receptores muscarínicos M2 e M3, purinérgicos P2X1 e canais de Ca2+ tipo L em detrusor. Os animais diabéticos apresentaram aumento do peso da bexiga, da espessura da parede e do volume da mesma em relação aos camundongos controle. A densidade de tecido neural também foi maior no grupo diabético, enquanto nenhuma alteração foi verificada em relação à densidade de músculo liso e de colágeno. O estudo cistométrico revelou aumento da capacidade e complacência da bexiga nos animais diabéticos, assim como maior amplitude das contrações de micção, aumento da freqüência de micção e de contrações involuntárias. Estes ainda exibiram aumento da pressão intravesical pós-miccional, evidenciando uma perda da eficiência da micção. A contratilidade do detrusor isolado de camundongos diabéticos se mostrou maior em resposta ao carbacol, ?,?-metileno ATP, KCl, CaCl2 e estímulo elétrico. Para avaliar o papel dos canais de Ca2+ tipo L e da rho-quinase no aumento da resposta contrátil ao carbacol, realizamos curvas ao carbacol na presença do bloqueador de canal de Ca2+ tipo L, nifedipina (3 nM) ou do inibidor da rho-quinase, Y27632 (1 µM). A pré-incubação com nifedipina preveniu o aumento da contração no grupo diabético, enquanto na presença do Y27632 não houve redução significativa das contrações em ambos os grupos. A expressão de RNAm de receptores M3 foi significativamente maior no grupo diabético em comparação com o grupo controle, enquanto não foram observadas alterações significativas na expressão de receptores M2 e P2X1. Os camundongos diabéticos exibiram aumento significativo da expressão de RNAm de canais de Ca2+ tipo L. As curvas concentração-resposta em músculo liso de uretra revelaram aumento da contração em resposta à fenilefrina e redução do relaxamento ao doador de óxido nítrico (NO), nitroprussiato de sódio (SNP), no grupo diabético. Em suma, nossos dados mostram que o aumento da contração do músculo detrusor em camundongos diabéticos é devido ao aumento do influxo de Ca2+ extracelular através dos canais de Ca2+ tipo L e ao aumento da expressão de receptores muscarínicos M3. Além disso, o aumento da resistência mecânica da uretra resultou em perda da eficiência do esvaziamento da bexiga associada à hiperatividade da mesma

ASSUNTO(S)

detruso overactive detrusor hiperativo bexiga diabetes urinary bladder diabetes

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