Gênero e matemática(s): jogos de verdade nas práticas de numeramento de alunas e alunos da educação de pessoas jovens e adultas
AUTOR(ES)
Maria Celeste Reis Fernandes de Souza
DATA DE PUBLICAÇÃO
2008
RESUMO
Esta tese apresenta resultados de uma pesquisa que investigou as configurações das relações de gênero nas práticas de numeramento das alunas e dos alunos da EJA, com idade compreendida entre 18 e 76 anos, trabalhadoras e trabalhadores pertencentes a uma associação de catadoras e catadores de materiais recicláveis. O material de pesquisa foi produzido em oficinas coordenadas pela pesquisadora, em observação de aulas, em registros de episódios e em entrevistas. Imprimindo um modo de olhar advindo dos estudos de Gênero que se alinham a uma vertente pós-estruturalista, assumimos contribuições teóricas de Michel Foucault, operando com os conceitos de discurso, poder, saber e sujeito como ferramenta analítica. Procuramos mostrar que mulheres e homens constituem e mobilizam práticas de numeramento em função dos discursos que atravessam essas práticas, identificadas por nós como desencadeando batalhas discursivas e se constituindo delas e nelas. Essas batalhas discursivas envolvem os enunciados que neste trabalho descrevemos da supremacia masculina em matemática, da hegemonia da matemática escrita sobre as práticas matemáticas orais, do cuidado como parte da natureza feminina e do discurso dos direitos da mulher. Um argumento central desenvolvido nesta tese é o de que sobrevive, na contemporaneidade, uma produção discursiva da razão como posse do homem engenhosamente articulada aos modos como temos significado masculinidades e feminilidades. Portanto, as relações de gênero nas práticas de numeramento configuram práticas matemáticas femininas e práticas matemáticas masculinas constitutivas dos ou constituindo os modos de ser homem e ser mulher, tidos como verdadeiros. Na análise dessa produção discursiva flagramos tensões entre razão cartesiana e razões de vida; entre as práticas vivenciadas no espaço doméstico e no espaço do trabalho; entre uma matemática escrita e uma matemática oral, tensões essas que permeiam e se deixam permear por uma naturalização das práticas de numeramento produzidas como masculinas ou femininas, quando essas se afirmam como práticas verdadeiras da mulher ou do homem, produzindo-se, assim, uma matemática do feminino e uma matemática do masculino, em meio a marcações de faltas, normalizações, distinções e desigualdades.
ASSUNTO(S)
matemática estudo e ensino educação teses educação de adultos
ACESSO AO ARTIGO
http://hdl.handle.net/1843/FAEC-85FNHSDocumentos Relacionados
- Matemática e texto: práticas de numeramento num livro didático da educação de pessoas jovens e adultas
- Práticas de numeramento e relações de gênero: tensões e desigualdades nas atividades laborais de alunas e alunos da EJA
- Práticas de numeramento nos livros didáticos de matemática voltados para a educação de jovens e adultos
- Gênero e práticas de produção dos alunos da educação de jovens e adultos
- Constituição de práticas de numeramento em eventos de tratamento da informação na educação de jovens e adultos