Pereira, Joana Isabel Aparício; Afonso, Rosa Marina; Reis-Pina, Paulo
2022RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A dor crônica não oncológica é considerada um problema de saúde pública, afetando 37% da população portuguesa. O tratamento da dor representa um direito humano fundamental. Entretanto, durante a pandemia do COVID-19, a grande maioria destes serviços de assistência ao paciente foi considerada como não urgente ou não emergente, sendo consultas e tratamentos clínicos adiados ou desmarcados. Restrições impostas, como medidas de prevenção da infecção por COVID-19, tornaram-se contraproducentes no que se refere à gestão da dor crônica. O seu impacto deve ser realçado principalmente na população mais idosa, devido às comorbidades associadas quer físicas quer psicológicas. O objetivo deste estudo foi analisar o impacto da pandemia do COVID-19 na dor de pessoas idosas em quatro aspectos: i) intensidade, tratamento e gestão da dor; ii) saúde mental; iii) estilo de vida; iv) qualidade de vida. MÉTODOS: Revisão nas bases de dados Pubmed, SCOPUS e Scielo usando os termos: chronic non-cancer pain, pain management, aged e COVID-19. Foram encontrados 86 artigos e selecionados 13. Foram incluídos artigos que cumulativamente versavam sobre dor crônica, representavam pesquisa original de natureza clínica e analisavam o impacto da pandemia do COVID-19 na gestão da dor crônica. A preferência foi dada a estudos com participantes com idade igual ou superior a 65 anos. Também foram analisados estudos realizados em adultos sem menção de idade no âmbito do impacto da pandemia do COVID-19 sobre os aspetos que infuenciam a dor crônica e a sua gestão. Apenas um artigo estudou exclusivamente a população idosa. RESULTADOS: A pandemia afetou: i) aumento da intensidade da dor (n=10), alterações no seu tratamento farmacológico e não farmacológico (n=3) e a sua gestão, isto é, a adaptação dos profissionais de saúde e dos doentes (n=1); ii) negativamente a saúde mental: sintomas de estresse e ansiedade/depressão (n=9), distresse psicológico (n=4), isolamento social/solidão (n=6); iii) estilos de vida: atividade física (n=4), qualidade do sono (n=4) e desempenho físico (n=5); iv) redução da qualidade de vida (n=5). Apesar dos resultados heterogêneos, verificou-se o agravamento da dor e saúde mental, alteração dos estilos e qualidade de vida, disrupção dos serviços médicos. CONCLUSÃO: As restrições impostas pela pandemia afetaram vários domínios da dor em curto prazo. A telemedicina surgiu como uma solução adotada, não podendo descurar os entraves na população idosa, como a falta de literacia digital e falta de equipamentos tecnológicos. O desconhecimento do impacto específico da COVID-19 na dor da população idosa sugere mais investigação que incida sobre as consequências em longo prazo, assim como as soluções a adotar de modo a conter lesões ou disfunções nesta população vulnerável. DESTAQUES Agravamento da dor e saúde mental, alteração dos estilos e diminuição da qualidade de vida. A disrupção dos serviços médicos gerados pelo período pandêmico reforça a necessidade de uma abordagem holística e individual na assistência de saúde. Impacto da pandemia na gestão da dor crônica foi pouco explorado em pessoas idosas. Necessidade de mais investigações que incidam sobre as consequências em longo prazo, assim como as soluções a adotar de modo a conter lesões ou disfunções nesta população vulnerável.