Isolamento, purificação e caracterização bioquimica e farmacologica de toxinas obtidas do veneno de Micrurus dumerilli carinicauda

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

O veneno da serpente elapídica Micrurus dumerilii carinicauda apresenta uma ação neurotóxica caracterizada por bloqueio da resposta contrátil em preparação de ave e mamíferos in vitro (SERAFIM et al., 2002). Através de cromatografia em HPLC de coluna fase reversa o veneno foi fracionado e dentre os 22 picos obtidos foram caracterizados bioquímica e farmacologicamente somente aqueles que exibiram atividade neurotóxica do tipo bloqueadora neuromuscular. Assim, os picos que exibiram atividade neurotóxica foram a PLA2 MiDCAI correspondente ao pico 16 e duas isoformas (as subfrações F6 e F7) correspondentes aos picos 6 e 7 e que determinaram bloqueio neuromuscular em preparações de camundongo. A PLA2 MiDCAI, que possui massa molecular de 15.552 Da e um pI de 7.8 compartilha uma alta homologia com outras PLA2 neurotóxicas MICNI A (77,68%) e B (73,12%) do veneno da serpente (Naja nigricollis). Em preparação músculo biventer cevicis de pintainho MiDCAI (2.4 µM) induziu 50% bloqueio em 30 ± 5 min inibindo completamente a resposta contrátil a estímulos indiretos em 120 min de observação. Além disso, as contraturas determinadas pelo carbacol (8 mM) e KCl (20 mM) em preparação biventer cervicis de pintainho permaneceram inalteradas na vigência do bloqueio neuromuscular completo, sugerindo uma ação do tipo pré-sináptica. Na preparação nervo frênico-diafragma de camundongo MiDCAI (0.6, 1.2, 2.4 µM) induziu alteração trifásica na resposta contrátil. Além disso, o registro intracelular dos potenciais de placa terminal em miniatura (PPTM) e potenciais de placa terminal (PPT) mostrou também que a MiDCAI causou uma alteração trifásica na freqüência dos PPTM além de aumentar o conteúdo quântico do controle para 386 ± 12% aos 10 min de incubação (n=14, p<0.05). O registro extracelular do potencial de ação composto do nervo ciático de camundongo mostrou que esta neurotoxina induz um aumento na amplitude desses potenciais (30 ± 9%, 0.6 µM, p<0.05) semelhante ao induzido pela 3,4-diaminopiridina (3,4-DAP) 10 µM. Também ficou claro que o efeito facilitador induzido por esta PLA2 esteja relacionado ao bloqueio de canais de potássio como demonstrado pelo bloqueio de 31 ± 1% (2.4 µM, p<0.05) das correntes de potássio evocadas em neurônios do gânglio da raiz dorsal usando-se a técnica de patch-clamp. Já as subfrações ativas F6 e F7 possuem um peso molecular de aproximadamente 14 kDa como ficou demonstrado pela eletroforese em gel de poliacrilamida a 12,5 %. Em preparações neuromusculares de camundongo estas duas isoformas induziram bloqueio neuromuscular irreversível a estímulos elétricos indiretos. Assim, um bloqueio de 50% da resposta contrátil foi obtido em aproximadamente 18 min quando estas toxinas foram ensaiadas a 5 µg/ml promovendo bloqueio completo em aproximadamente 55 min. Sucessivas lavagens da preparação e a adição de neostigmina (6 µM) e 3,4-DAP (10 µM) foram ineficazes em reverter o bloqueio neuromuscular instalado. Também não houve alteração da resposta aos estímulos diretos nem redução da polaridade da membrana da fibra muscular quando estas toxinas foram ensaiadas na concentração de 5 mg/ml. Em conclusão, a PLA2 MiDCAI é uma nova neurotoxina pré-sináptica que induz alteração trifásica em preparações neuromusculares de camundongo promovendo uma facilitação inicial e fugaz possivelmente causada pelo bloqueio de canais de potássio no terminal nervoso motor. Já, as características bioquímicas assim como os efeitos neuromusculares desencadeados pelas subfrações F6 e F7 sugerem se tratar de duas isoformas curaremiméticas ou do tipo a-neurotoxinas, como demonstrado para outros venenos elapídicos.

ASSUNTO(S)

junção neuromuscular eletrofisiologia fosfolipases camundongo ave toxinas

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