Mães, médicos e charlatães: configurações culturais e múltiplas representações dos discursos médicos-sanitaristas - São Paulo, 1920-1930

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2001

RESUMO

A partir da Primeira Grande Guerra, o desenvolvimento da Higiene como "Ciência da Saúde" estabeleceu princípios gerais, que serviram como guias para a Reforma do Serviço de Saúde Pública de São Paulo, em 1925. Esta dissertação tem como proposta questionar o processo de construção das representações dos discursos médicos-sanitaristas na cidade de São Paulo entre 1920-1930, com ênfase em 1925, momento da Reforma Paula Souza. O novo código sanitário estabeleceu numerosos pontos de contato entre problemas sociais e problemas de Saúde Pública, voltando-se para a assistência materno-infantil, para tuberculosos e sifilíticos, considerados como os maiores problemas trazidos à população de São Paulo. Índices de mortalidade infantil, identificados como causa de afecções intestinais, foram associados a processos de alimentação "defeituosos" devidos à ignorância das mães. Esse diagnóstico desencadeou uma política de educação das mulheres, que, culpabilizadas pela morte das crianças, deveriam aprender uma "nova maneira" de maternar seus filhos. A intervenção sobre usos e costumes transformou relações sociais que integravam redes de significação distintas das que se impunham, pretendendo determinar, pelo estabelecimento de seus métodos ditos científicos, o desaparecimento da efetividade protetora de misturas, poções, feitiçarias, ritos e mitos, entre outros. Numa relação de confronto, de estranhamento e de desconhecimento, o "charlatanismo" foi definido pela sua carência, pela falta de "racionalidade médica", para ser classificado como imoral, desonesto, ilegítimo, reduzido a sinônimo de primitivismo e atraso social. A extração dos significados das tradições pretendeu reprimir sensibilidades, princípios e valores, alterando regras que regiam a vida dos diversos sujeitos, e diziam respeito às múltiplas formas de sociabilidade. Desse modo, a organização da vida coletiva deveria se afirmar pela semelhança, contribuindo para a construção da legitimidade de uma única ordem social, que capacitava o novo e desacreditando no antigo. Nessa ordem social, a culpabilidade, diante da responsabilidade imposta pela criação dos filhos, tornou-se um componente da socialização da mulher. Tal política interferiu em suas relações de trabalho, familiares e sociais. Propõe-se a interrogar os diagnósticos da Saúde Pública em sua pluralidade e através das discussões sobre a heterogeneidade de experiências sobre maternagem e charlatanismo ali vislumbradas, abrindo o campo de análise de expressões culturais, transmissão de tradições, formas de resistências, que propiciando um maior conhecimento sobre a condição da mulher, permitam informar às questões contemporâneas que o tema coloca

ASSUNTO(S)

historia falsa medicina alimentacao e higiene saude publica -- sao paulo (estado) -- 1920-1930

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