Mal-estar na cultura do risco: uma leitura dos impasses e dificuldades criadas pelas situações dúplices de tratamento médico e psicanalítico

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O exercício da clínica psicanalítica na atualidade comporta vários desafios. Um deles refere-se à coexistência com os tratamentos médicos, de maneira geral, e, sobretudo, com os tratamentos psicofarmacológicos, que cresceram exponencialmente nos últimos anos. O que aqui se denomina situações dúplices de tratamento, pela psicanálise e pela medicina, torna-se a cada dia uma realidade mais comum e incontornável. Este trabalho representa uma tentativa de considerar os possíveis efeitos clínicos desta realidade sobre a situação analítica. A pesquisa parte de dois pressupostos: 1. O contexto sócio-cultural específico que favorece fortemente as situações dúplices é aquele dominado pela preocupação com os riscos que cercam a saúde e o corpo, no interior da chamada sociedade do risco. 2. Os quadros psicopatológicos mais freqüentes nestas situações são as manifestações psicossomáticas, as adições e os casos em que se nota uma sobre-adaptação á realidade externa, as normopatias. Procura-se mostrar que, não por acaso, há várias ressonâncias entre os planos da cultura e da clínica. Os dois capítulos iniciais examinam criticamente o contexto sócio-cultural referido, por meio da análise dos conceitos, valores e certos mecanismos que o engendram; isso permite situar a psicanálise, enquanto experiência terapêutica, como distinta do horizonte de adaptação e normatização que se abre para o indivíduo contemporâneo, e do qual o cognitivismo seria um dos representantes. Nesse ponto, servem de guia alguns estudos de autores que fazem uma interpretação psicanalítica da cultura contemporânea. Na segunda parte da dissertação, algumas narrativas clínicas são apresentadas e discutidas com o objetivo de mapear o que se passa na relação entre o analista e o paciente, nestas situações. Dois tipos de efeitos são destacados: um enfraquecimento da transferência, e uma invalidação parcial das capacidades do analista, entre as quais, a capacidade de oferecer continência, nos termos descritos por Wilfred Bion. À luz desse entendimento, desenvolve-se a noção-síntese de uma lógica do risco, algo que pode vir interferir negativamente com a experiência analítica e seus resultados

ASSUNTO(S)

psychoanalysis função de continência do analista sociedade do risco psychopharmacology psicofarmacologia medicine psicologia function of continent of the analyst risk-society psicofármacos medicina e psicologia psicanalise medicina psicossomatica psychosomatic

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