O legado ancestral africano na diáspora e o trabalho do docente: desafricanizando para cristianizar

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

Neste estudo nos ocupamos da presença do legado ancestral africano de Candeias e São Francisco do Conde, cidades do Recôncavo da Bahia. Buscamos mostrar como docentes, impregnados pela doutrina cristã, discriminam os saberes da cultura Afro-brasileira, deixando de tomá-los adequadamente em seu trabalho na escola, dissociando a teoria da prática. A intenção desse estudo fica muito evidente quando nos reportamos à frase de mãe Aninha, uma grande sacerdotisa do Candomblé baiano, "De anel no dedo aos pés de Xangô" (Luz, 2000), que nos leva a pensar na relação dinâmica entre valores da sociedade oficial e dos códigos de comunicação da tradição Afro-brasileira. Para nós esta frase se toma importante, pois, nela coexistem dois mitos: o mito do "anel no dedo" e o mito de "Xangô". Para a sabedoria popular, o "anel no dedo" pode simbolizar o diploma, a educação institucionalizada, que busca formar as pessoas para o mundo do trabalho, das aprendizagens com as novas tecnologias. Enquanto que "Xangô" simboliza, no legado africano, a justiça e aquele que diviniza a natureza através dos trovões e relâmpagos. É a força divina que enfrenta as dificuldades através da consciência e da justiça. Para a cultura ocidental, o "anel no dedo" é um mito que abarca como seus, os valores do cristianismo, do capitalismo, da técnica, da razão e os inclui como símbolo dos civilizados. Nossa escola brasileira, sendo cria de uma instituição religiosa cristã e do capitalismo, nasce para justificar e referendar o mito do "anel no dedo" e tenta erradicar o patrimônio do saber oral presente no mito de "Xangô". Em sua frase, essa pedagoga do Terreiro,mãe Aninha, parece nos ensinar valores que pertencem ao mundo letrado e valores que pertencem ao mundo da oralidade, a sábia indiretamente nos fala da articulação entre cultura letrada e cultura oral, de objetividade e subjetividade, valores com os quais os docentes devem lidar no espaço da escola onde se movem as muitas culturas. Todavia os docentes (Afro-brasileiros, Católicos e Protestantes), com formação cristianizada através dos ensinamentos do mito-cristão acabam por desenvolver atividades que promovem o processo de desafricanização pela cristianização

ASSUNTO(S)

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