O papel das sauvas (Alta Sexdens) na sucessão florestal em pastagens abonadas na amazonia

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

Grandes áreas de floresta nativa foram convertidas à pastagens nas últimas décadas na Amazônia. Mais da metade encontram-se abandonadas. Ninhos de saúvas (>40 m2) são abundantes em áreas de pasto e podem ter um importante papel sobre a sucessão florestal que se processa após o seu abandono. Neste estudo são avaliados as influências de ninhos da saúva Atta sexdens sobre as características físico-químicos do solo e as conseqüências para o desenvolvimento de florestas secundárias, a partir de pastagens abandonadas na Amazônia. As seguintes hipóteses foram testadas: ninhos de A. sexdens 1. diminuem a resistência à penetração e a densidade aparente do solo e aumenta sua porosidade, alterando sua textura, 2. aumenta a concentração e o estoque de nutrientes disponíveis para plantas no solo, 3. aumenta a biomassa de raízes fina e grossas, 4. altera as emissões de gases traço (NO e N2O) e de carbono (CO2), 5. aumenta a capacidade do solo em armazenar água para as plantas, 6. reduz o estresse hídrico e 7. aumenta o crescimento da vegetação estabelecida sobre ou ao redor dos ninhos. Oito ninhos foram escavados em florestas secundárias na Amazônia oriental (Paragominas) e central (Manaus). Poços foram perfurados até uma profundidade de três metros sobre o centro de cada ninho estudado, expondo desta forma o solo e os tipos diferentes de cavidades subterrâneas construí das pelas saúvas. Neste poços, vários parâmetros das propriedades físicas e químicas do solo, tal como textura, resistência à penetração, densidade aparente, porosidade e fertilidade, foram medidos e comparados a iguais parâmetros medidos em poços escavados em solo sem influência dos ninhos. As amostras de solo foram feitas a intervalos de profundidade para medidas do efeito dos ninhos sobre a riqueza e biomassa de raízes finas (<2 mm de diâmetro) e grossas (>2 mm) em duas localidades na Amazônia (Fazenda Vitória, Paragominas e duas localidades próximas à Manaus). Para efeito de comparação, para cada ninho, um segundo poço foi perfurado à uma distância de 15 metros dos limites do murundu. Durante a perfuração dos poços, amostras de solo foram coletadas para análise das características físico-químicas (textura, densidade aparente, porosidade e nutrientes disponíveis). Outras medidas, água volumétrica e resistência a penetração do solo e a quantidade e biomassa de raízes e sobre a capacidade do solo em estocar água, foram realizadas. As emissões de gases do solo foram medidas utilizando-se câmaras de amostragem distribuídas sobre um ninho e em áreas adjacentes a este em Paragominas. O efeito dos ninhos sobre a vegetação foi estimado monitorando-se o crescimento em diâmetro de nove espécies de árvores e também medindose o estresse hídrico de Banara guianensis, uma espécie de árvore comum na floresta secundária de Paragominas. Informações adicionais sobre os efeitos dos ninhos sobre a floresta secundária foram obtidas através de um experimento no qual o crescimento de plântulas (Cecropia sp.) foi comparado entre vasos contendo diferentes proporções de solo mineral e matéria orgânica removida das cavidades de detrito das cavidades. A influência de ninhos de A. sexdens alterou significativamente as propriedades físicas do solo, especialmente nas profundidades maiores que 50 cm. O solo influenciado pelos ninhos apresentou baixa resistência a penetração e baixa densidade aparente do que o solo ao redor. Ainda, a textura do solo do ninho apresentou-se arenosa, especialmente próximo a superfície. Como conseqüência, a porosidade foi maior. Contudo, não existiu diferença significativa na capacidade do solo do ninho em estocar água em relação ao solo da floresta. O estoque de nutrientes disponíveis para plantas no solo dos ninhos foi alto para cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K) e nitrato (NO3) em comparação ao solo ao redor. A concentração de alguns nutrientes (K e NO3) foi maior em profundidade (>100 m). A emissão de gás foi similar entre solo com e sem efeito dos ninhos, mas existiu uma variação expressiva na emissão de N2O durante amostras tomadas ao longo de 24 horas. As diferenças físicas e químicas no solo do ninho mostraoram um aumento na concentração de biomassa de raízes grossas (60 % a mais) e finas (80%). Contudo as mudanças no solo promovidas pelas saúvas não foram acompanhadas por aumentos no crescimento em diâmetro das nove espécies de árvores ou por redução no estresse hídrico sofrido por árvores de B. guianensis. O crescimento de plântulas de Cecropia sp. em vasos, contudo, foi favorecido pela adição de matéria orgânica das cavidades de detritos. As plântulas cresceram 80 % a mais em vasos com uma proporção de matéria orgânica: solo mineral de 1:1 e 9:1. Todos os efeitos promovidos pelos ninhos sobre o solo e descritos neste estudo sugerem que A. sexdens tem um importante papel sobre a sucessão florestal em pastagens abandonadas na Amazônia. Durante os primeiros anos (<3) de sucessão em pastos, ninhos de saúvas podem representar sítios apropriados para a colonização de espécies de plantas pioneiras, promovendo a formação de ilhas de vegetação. Por outro lado, nesta fase, as saúvas são predadoras importantes de sementes e plântulas e, deste modo, elas podem funcionar como barreira a sucessão florestal. Em florestas secundárias jovens (0-5 anos) a densidade de ninhos maduros de saúvas (>40 m2) podem atingir 4-5 por hectare. Contudo, a densidade de ninhos ativos declina após esta fase, caindo próximo a zero em florestas secundárias com 15-20 anos de idade. Portanto, pode ser que após 10-20 anos, ou mais, de abandono da pastagem os efeitos positivos das saúvas sobre a sucessão predominam, uma vez que neste período os efeitos positivos sobre o solo de ninhos mortos ou abandonados sejam maiores do que os efeitos negativos advindos da herbivoria. A influência de saúvas sobre a sucessão florestal em pastagens abandonadas amazônicas é uma função do balanço entre efeitos negativos (e.g. predação de sementes e herbivoria) e positivos (e.g. aumento da fertilidade e promoção do crescimento de raízes). A dominância relativa de um efeito sobre o seu antagônico depende do estágio de sucessão florestal (medida através da diversidade e da biomassa vegetal) e do tamanho e abundância de ninhos

ASSUNTO(S)

ecologia - amazonia sauva (formiga) - amazonia

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