O uso do DNA mitocondrial em quatro estudos envolvendo a ancestralidade de populações americanas nativas e miscigenadas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A colonização das Américas iniciou-se no século XVI e envolveu um intenso processo de mistura genética entre os americanos nativos, os colonizadores europeus e os escravos africanos que culminou na formação das populações americanas atuais. No presente trabalho, utilizamos a variação no DNA mitocondrial como metodologia de estudo em quatro trabalhos independentes envolvendo a ancestralidade de populações americanas nativas e miscigenadas. No primeiro estudo, investigamos a ancestralidade materna de indivíduos pretos da cidade de São Paulo com o objetivo de estudar a filogeografia das linhagens mitocondriais africanas presentes nesta amostra. A metodologia utilizada foi o sequenciamento da região HVRI do DNA mitocondrial e análises de RFLP. Os resultados revelaram que 85% das linhagens mitocondriais destes indivíduos eram de origem africana do sub-Saara, 11,7% eram ameríndio-asiáticas, 2,5% européias e 0,8% norte-africanas. A análise do Componente Principal e a análise Bayesiana de estrutura populacional envolvendo três regiões africanas envolvidas no tráfico de escravos para o Brasil nos mostraram a existência de subestrutura genética entre as regiões africanas e uma maior proximidade dos indivíduos de São Paulo (com mtDNA africano) com a região centro-oeste da África. Esta região também apresentou uma maior proporção de contribuição (45%) para a constituição genética da amostra de São Paulo quando uma análise quantitativa foi realizada. Os resultados obtidos corroboram com os dados históricos sobre a origem dos escravos para a região sudeste do Brasil. No capítulo II estudamos a ocorrência de fluxo genético por direcionamento sexual em população de caucasianos norte-americanos. Este fenômeno foi comum durante o processo de formação das populações latinas e recentemente também foi observado entre os africanos-americanos. Assim, recuperamos seqüências HVRI do DNA mitocondrial de indivíduos caucasianos norte-americanos no banco de dados do FBI. Seqüências africanas e ameríndias correspondiam a apenas 3,1% do total de seqüências. Esta proporção foi muito inferior aos valores obtidos para as populações caucasianas da América Latina e se justifica na existência de práticas sociais divergentes entre os EUA e a América Latina na categorização racial de crianças miscigenadas. No capítulo III, nos propomos a recuperar amostras de DNA mitocondrial em dentes de índios Botocudos com o objetivo de comparar suas linhagens com aquelas obtidas na população de Queixadinha. Esta comunidade vive hoje em local habitado pelos Botocudos no século XIX e foi proposto que entre as linhagens mitocondriais de Queixadinha existiriam assinaturas genéticas deste grupo indígena (Parra, 2003). Assim, estudamos doze dentes de índios Botocudos e obtivemos três linhagens mitocondriais. Embora nenhum compartilhamento de linhagens tenha sido observado entre as populações, a presença da linhagem ameríndia A entre os Botocudos (ausente em Queixadinha) é indicadora de uma maior diversidade genética entre estes índios e sugerimos que a deriva genética é um fator limitante para a comprovação de tal proposta. Por fim, testamos a hipótese de uma possível correlação positiva entre fendas labiais com ou sem a fenda do palato (CL/P) e ancestralidade ameríndia em populações da América do Sul (Vieira et al., 2002). Para isto, realizamos uma análise de ancestralidade ameríndia por RFLP em amostras de indivíduos do ECLAMC (mesma amostra que Vieira) e em amostras apenas do Brasil. Os resultados obtidos não confirmaram tal associação e propomos que o excesso de linhagens D em casos CL/P observados por Vieira e colaboradores seja um artefato de amostragem e criticamos a associação entre ancestralidade mitocondrial e autossômica feita pelos autores.

ASSUNTO(S)

bioquímica teses. dna mitocondrial teses. miscigenação teses. genealogia teses. imunologia teses.

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