Para uma psicossociologia da mÃscara : sobre curativos, Ãculos e prÃteses faciais na trajetÃria de vida de pessoas que passaram por mutilaÃÃes na face

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Este estudo teve o objetivo de investigar os sentidos conferidos a mutilaÃÃes faciais a partir das apercepÃÃes de pessoas que convivem com o agravo tÃm de si mesmas, na interface com a interaÃÃo que estabelecem no meio social. Tal pesquisa foi desenvolvida a partir da interlocuÃÃo entre abordagens Psicossociais, AntropolÃgicas e da Psicologia da Cultura, as quais buscam localizar o corpo como elemento importante para constituiÃÃo da pessoa e da identidade: Corpo que Ã, na cultura, instÃncia a partir e/ou pela qual os sentidos sÃo produzidos; Corpo-pessoa atravessado por agÃncias e posiÃÃes de sujeito frente ao discurso presente na sociedade. Neste contexto teÃrico â onde se chama atenÃÃo a centralidade da cabeÃa e do rosto no que tange a construÃÃo da identidade da pessoa e suas vicissitudes â localizamos o objeto desta investigaÃÃo: a vivÃncia da mutilaÃÃo facial. A pesquisa foi realizada em dois locais: no Centro de ReabilitaÃÃo Buco-Maxilo-Facial, que funciona no Hospital de CÃncer de Pernambuco (HCP) e em um consultÃrio particular para reabilitaÃÃo facial. Utilizaram-se as tÃcnicas de observaÃÃo participante, entrevista semi-dirigida e entrevista com enfoque biogrÃfico, perfazendo estas Ãltimas o total de 16 (dezesseis) participantes. A anÃlise temÃtica e a dupla hermenÃutica foram as formas de anÃlise escolhidas para tratamento das informaÃÃes e, a partir da transcriÃÃo fiel das entrevistas, procurou-se entrar em contato com as histÃrias narradas, que foram apresentadas como resultados em forma de sÃntese das falas dos sujeitos, procurando evidenciar trechos que passaram por interpretaÃÃes do pesquisador, o que jà significou uma prÃ-anÃlise do corpo de dados obtidos. Observou-se que o acrÃscimo de curativos, Ãculos e prÃteses faciais parece auxiliar na afirmaÃÃo pessoal diante da impossibilidade sentida para modificar sua condiÃÃo de âexistir como era antesâ, pois que agora se tem um âburaco no rostoâ. A mutilaÃÃo à significada como uma espÃcie de âestigma da monstruosidadeâ, sobre o qual Frankenstein, O corcunda de Norte Dame e, em especial, O fantasma da Ãpera, jà nos falavam desde as paginas da ficÃÃo. Numa tentativa de adequaÃÃo social por meio daqueles acessÃrios, estes acabariam por funcionar como aquilo que mascara, ao mesmo momento que revela tal condiÃÃo. Tais acessÃrios, para alguns, parecem facilitar a interaÃÃo social, especialmente junto Ãqueles com os quais existem laÃos afetivos, familiares ou de amizade, sendo a aceitaÃÃo por estes Ãltimos ressaltada como fundamental para que os momentos difÃceis advindos com a mutilaÃÃo possam ser atravessados. O fato à que, e considerando a sociedade abrangente, as pessoas se sentem demasiadamente observadas, analisadas, avaliadas negativamente por causa desta modificaÃÃo na face. Ainda assim, vislumbrou-se situaÃÃes em que o indivÃduo teve o poder de demonstrar sua diferenÃa e sua autonomia, mesmo onde eram conhecidas as normas estigmatizantes presentes na sociedade. TambÃm, nos espaÃos visitados, a princÃpio pensados para dar suporte a vivÃncia da mutilaÃÃo, nÃo foi possÃvel perceber a existÃncia de grupos, ou instÃncias de compartilhamento de experiÃncias. As narrativas sugerem que o atendimento individual, focado na oferta de prÃteses, nem sempre contribui para a busca do convÃvio social, sendo o afastamento resposta comum ao que chamamos de âestigma da monstruosidadeâ: sentir-se ser recebido como diferente, estranho e atà assustador. Estigma que permanece, mesmo para aqueles que jà fazem uso de curativos, Ãculos e prÃtese facial. Os dados sinalizam que o caminho para lidar com o estigma, socialmente compartilhado e incorporado pela pessoa, està menos no uso de âmÃscarasâ, e mais no de afirmar, para os que passaram pela mutilaÃÃo e para seus outros, as suas humanidades

ASSUNTO(S)

facial mutilation stigma body identity narrativa discourses estigma corpo psicologia identidade mutilaÃÃo facial

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