Predação e sobrevivencia de sementes de araucaria angustifolia (Bert.) Kuntze em areas de mata nativa e plantação de Pinus eliotti na Floresta Nacional de São Francisco de Paula, RS

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

A dispersão de sementes compreende a fase entre a liberação destas a partir da planta-mãe e o estabelecimento da plântula. Entretanto, a maior parte da produção de sementes de uma planta acaba sendo predada. A predação de sementes é um fator que varia em função de muitos outros, influenciando na estrutura populacional vegetal à medida que alteram tanto a quantidade quanto a distribuição de sementes disponíveis à regeneração. Arauearia angustifolia (Bert.) Kuntze (Araucariaceae) (pinheiro-brasileiro) é uma espécie arbórea que tem suas grandes sementes muito predadas por vertebrados. Sua classificação ecológica é controversa, considerada uma espécie heliófila e pioneira por se regenerar melhor em bordas que no interior da floresta, embora não apresente características fisiológicas de pioneiras e suas plântulas tolerarem níveis críticos de sombreamento. Um fator que pode influenciar a regeneração desta espécie é a disponibilidade de sementes, diminuída drasticamente devido a predação. Os objetivos deste estudo são: 1) Avaliar e comparar a intensidade da predação pós-dispersão de sementes de Arauearia angustifolia em três áreas com diferentes estruturas populacionais e densidades de indivíduos adultos desta espécie; 2) verificar e comparar a existência de um padrão temporal dentro da época de queda de sementes quanto à intensidade de predação pós-dispersão e tratamento dado à semente por vertebrados nas três áreas de estudo; 3) avaliar e comparar a sobrevivência de sementes quando excluídas do acesso de predadores vertebrados nas áreas de estudo. O estudo foi realizado na Floresta Nacional de São Francisco de Paula (FLONA - SFP), RS. Foram escolhidas três áreas: Mata Nativa I, onde foram observados a presença de plântulas e poucos indivíduos adultos; Mata Nativa II, sem plântulas a priori e com o dossel formado por copas de A. angustifolia; e Plantação de Pinus, onde há colonização por esta espécie. Nas três áreas a estrutura populacional de A. angustifolia foi averiguada; entre os meses de maio e agosto de 2002 foram feitas contagens de pinhões no solo e experimentos de remoção/predação e de destino de sementes. Foi também averiguada a sobrevivência de sementes isoladas da ação de vertebrados. A Mata Nativa I apresentou menos indivíduos adultos e mais jovens que a Mata Nativa TI. Esta apresentou pouca regeneração, apesar da presença de plântulas pequenas (<50 em), o que não era esperado e pode ser explicado pela alta produção de sêmenes no ano anterior. A abundância de sementes no solo mostrou-se baixa, caindo de maio a agosto. A Plantação de Pinus apresentou apenas remoção de sementes, sendo ausentes casos de predação local. Nas áreas nativas, no decorrer dos meses, a remoção diminuiu e a predação local aumentou, sendo significativas as diferenças entre maio e agosto, devido à diminuição na oferta do recurso. Entre os animais que predaram os pinhões no local estão a cutia (Dasyprocta azarae) e o quati (Nasua nasua). O experimento de destino de sementes mostrou que a maioria foi removida por pequenos roedores, que levavam o pinhão para tocas no solo e ali as predavam. Gralhas (Cyanoeorax eaeruleus) removeram as sementes na Plantação de Pinus, juntamente com pequenos roedores. Os poucos casos de estocagem de sementes foram efetuados por cutias nas matas nativas, mas quase todas, foram recuperadas, o que também pode ser devido a pouca disponibilidade de pinhões no solo. A área de Plantação de Pinus apresentou a maior sobrevivência de sementes após oito meses. As causas da mortalidade de sementes isoladas do contato de vertebrados foram ataques de insetos ao endosperma exposto da semente entumescida e fungo na radícula. Os dados do presente estudo indicam que a predação de sementes exerce um papel de grande importância na estrutura populacional desta espécie, pois diminui em muito a quantidade de semente disponível à regeneração. Sementes que escapam à predação por vertebrados estão sujeitas a outras causas de mortalidade, que podem ser bastante importantes, como patógenos. As sementes de A. angustifolia, devido à sua procura pela fauna, mostraram ser um recurso importante para a mesma, evidenciando a necessidade de um manejo na coleta para consumo humano

ASSUNTO(S)

ecologia sementes

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