Sintomas somáticos da depressão: características sociodemográficas e clínicas em pacientes de Atenção Primária em Curitiba, Brasil / Somatic symptoms of depression: clinical and sociodemographic characteristics in primary care patients from Curitiba, Brazil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O transtorno depressivo maior (TDM) envolve uma variedade de sintomas afetivos, cognitivos, somáticos e comportamentais. As manifestações somáticas e as dolorosas são comuns na depressão e, em alguns casos, sintomas afetivos e cognitivos podem estar encobertos por uma variedade de queixas físicas. O fracasso em reconhecer os sintomas somáticos como parte integrante do transtorno depressivo associa-se a um aumento considerável dos recursos financeiros gastos em saúde pública e à incapacitação funcional normalmente associada à depressão. Objetivo: Este estudo objetiva estimar a presença e a gravidade dos sintomas somáticos clinicamente inexplicados em uma amostra de pacientes portadores de transtorno depressivo maior (episódio único, recorrente ou sem outra especificação). Métodos: Na primeira fase do estudo, avaliaram-se 201 sujeitos que procuraram atendimento ambulatorial em uma Unidade de Saúde (US) do Programa de Saúde da Família, em Curitiba (PR) e que aceitaram responder a um questionário de rastreamento de sintomas depressivos (CES-D) e a uma escala de gravidade de sintomas somáticos (PHQ-15). Na segunda fase, 114 sujeitos com pontuação Z 15 na CES-D e considerados suspeitos para TDM foram entrevistados com a aplicação da SCID-I/P para confirmação do diagnóstico psiquiátrico. Foi consultado o Prontuário Médico Eletrônico da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba para a obtenção de informações clínicas sobre os sujeitos da amostra. Resultados: Os resultados deste estudo demonstraram uma alta proporção (34,32%) do TDM neste serviço de Atenção Primária. A forma de manifestação da depressão ocorria predominantemente por meio de queixas somáticas. Na amostra pesquisada, os 69 pacientes com transtorno depressivo maior apresentaram sintomas de natureza somática. Em média, cada paciente apresentava oito sintomas somáticos inexplicados ou pouco explicados clinicamente, uma razão seis vezes maior do que a apresentada pelo grupo de sujeitos sem suspeita de depressão. Os pacientes deprimidos consideraram que seus sintomas somáticos interferiam significativamente com o seu bem-estar e 82,60% deles atribuíram a esses sintomas um nível de gravidade entre moderada a alta. Esses sintomas somáticos eram mais frequentes e mais graves entre as mulheres com depressão do que nos outros três grupos do estudo (ANOVA, p<0,0007). Foi demonstrada a existência de uma associação entre a gravidade atribuída aos sintomas somáticos e a gravidade do quadro depressivo (qui-quadrado=6,9286; df = 2; p = 0,031). Os pacientes deprimidos desta amostra receberam um número significativamente maior de atendimentos por profissionais de saúde do que os sujeitos sem suspeita de depressão (Mann-Whitney, p<0,001). Conclusões: Esses resultados apontam para a necessidade de se considerar os sintomas de natureza somática e dolorosa como parte integrante do transtorno depressivo maior, o que pode facilitar a correta identificação desse transtorno na população atendida nos serviços de Atenção Primária.

ASSUNTO(S)

transtorno depressivo maior manifestações somáticas sintomas somáticos clinicamente inexplicados atenção primária à saúde psiquiatria

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