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(SOF Arquivada) Como realizar anticoncepção de emergência?

Há duas formas atuais aceitáveis de oferecer a anticoncepção de emergência (AE). A primeira, conhecida como regime ou método de Yuzpe, utiliza anticonceptivos hormonais orais combinados (AHOC) de uso rotineiro em planejamento familiar e conhecidos como “pílulas anticoncepcionais”. O Método de Yuzpe consiste na administração de pílulas anticoncepcionais combinadas, compostas de um estrogênio e um progestágeno sintéticos,

A associação mais estudada, recomendada pela Organização Mundial da Saúde, é a que contém etinilestradiol e levonorgestrel. Para finalidade de AE, é necessária a dose total de 0,2mg de etinilestradiol e 1mg de levonorgestrel, divididas em duas doses iguais, com intervalo de 12 horas. Existem no mercado AHOC com 0,05mg de etinilestradiol e 0,25mg de levonorgestrel por comprimido. Nesse caso, utilizam-se 2 comprimidos a cada 12 horas. Nas apresentações comerciais de AHOC com 0,03mg de etinilestradiol e 0,15mg de levonorgestrel por comprimido, devem ser administrados 4 comprimidos a cada 12 horas (1).

A segunda forma de realizar a AE é com o uso exclusivo de progestágeno, o levonorgestrel, na dose total de 1,5mg. Nas apresentações comerciais com 0,75mg de levonorgestrel por comprimido, a AE pode ser feita com a administração de 1 comprimido de 0,75mg a cada 12 horas ou, preferentemente, com 2 comprimidos de 0,75mg juntos, em dose única. Algumas preparações comerciais disponibilizam o levonorgestrel na dose de 1,5mg por comprimido. Nesse caso, utiliza-se 1 comprimido de 1,5mg em dose única. Da mesma forma que o método de Yuzpe, o levonorgestrel pode ser utilizado até cinco dias da relação sexual desprotegida. É importante considerar que a administração da AE classicamente é descrita dividindo-se a dose total em duas doses iguais, em intervalos de 12 horas, com a primeira dose iniciada, no máximo, em 72 horas da relação sexual. Contudo, recentes investigações da Organização Mundial da Saúde oferecem sólidas evidências de que a dose única de 1,5 mg de levonorgestrel é tão segura e eficaz como duas doses de 0,75 mg separadas em intervalo de 12 horas (1).

A anticoncepção de emergência (AE) é um método anticonceptivo que visa prevenir a gestação após a relação sexual desprotegida. O método, também conhecido por “pílula do dia seguinte”, ou ainda como “anticoncepção pós-coital”, utiliza compostos hormonais concentrados e atua por curto período de tempo nos dias seguintes da relação sexual. Diferente de outros métodos anticonceptivos que atuam na prevenção da gravidez antes ou durante a relação sexual, a AE tem indicação reservada a situações especiais ou de exceção, com o objetivo de prevenir gravidez inoportuna ou indesejada (1,2).

No Brasil, a AE é medicação aprovada pelos órgãos de vigilância sanitária e disponível, comercialmente, mediante receita médica. Além disso, a AE está incluída pelo Ministério da Saúde nas normas técnicas de Planejamento Familiar (1996) e Violência Sexual (1998 e 2005). Recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou a Resolução no 1.811, de 14 de dezembro de 2006, estabelecendo normas éticas para a utilização da AE e ratificando a responsabilidade de médicos por sua prescrição, como medida de prevenção, visando minimizar os impactos da gravidez não planejada e suas consequências na Saúde Pública. A Resolução ressalta, ainda, que a AE não provoca danos, tampouco interrompe a gravidez, podendo ser utilizada em todas as etapas da vida reprodutiva (1).

Outro aspecto ético e legal de grande interesse é a possibilidade da prescrição da AE por enfermeiros em circunstâncias especiais. A Lei no. 7.498/86, que regulamenta o exercício da enfermagem, no artigo 11, item II, § 3o, assegura o direito ao enfermeiro de prescrever medicamentos previamente estabelecidos em programas de saúde pública, dentro de rotinas definidas e aprovadas pela instituição, e sob supervisão médica (1).

Em geral, a eficácia da AE pode variar de forma importante em função do tempo entre a relação sexual e sua administração. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o método de Yuzpe apresenta taxas de falha de 2% entre 0 e 24 horas, de 4,1% entre 25 e 48 horas e de 4,7% entre 49 e 72 horas. Para os mesmos períodos de tempo, as taxas de falha do levonorgestrel são expressivamente menores, 0,4%, 1,2% e 2,7%, respectivamente (1).

Em suma, os dados sobre eficácia são absolutamente claros para que se afirme que a AE deva ser administrada tão rápido quanto possível e, preferentemente, em dose única dentro dos cinco dias que sucedem a relação sexual desprotegida (1).

É necessário lembrar que o uso repetitivo ou frequente da AE compromete sua eficácia ao longo do tempo, que será sempre menor do que aquela obtida com o uso regular do método anticonceptivo de rotina no mesmo período (1,2).

A única contraindicação absoluta para a AE é a gravidez confirmada. Excetuando-se esta condição, todas as mulheres podem usar o método com segurança, mesmo aquelas que, habitualmente, tenham contraindicações ao uso de anticoncepcionais hormonais combinados (1,2).

Para mulheres com antecedentes de acidente vascular cerebral, tromboembolismo, enxaqueca severa ou diabetes com complicações vasculares, a Organização Mundial da Saúde recomenda precauções. Nesses casos, a AE deve ser realizada, preferentemente, substituindo-se o método de Yuzpe pelo levonorgestrel (1).

Os efeitos secundários mais frequentes para as mulheres que usam a AE são náuseas e vômitos. Esses efeitos podem ser minimizados com o uso de antieméticos cerca de uma hora antes da tomada da AE. Outros efeitos secundários, tais como cefaleia, dor mamária e vertigens podem ocorrer, embora com menor frequência. São de curta duração e têm remissão espontânea nas primeiras 24 horas após o uso da AE (1).

De modo geral, a AE é bem tolerada pela maioria das mulheres e, excepcionalmente, ocorrem efeitos indesejáveis mais intensos ou severos (1).

Nos casos de tomada da medicação de forma irregular, a mulher deve ser orientada da possibilidade de falha do método, e orientada quanto ao uso de contracepção de barreira (preservativo) até a próxima menstruação ou até que uma eventual gravidez seja afastada (1).

Deve-se esclarecer que a menstruação pode começar um pouco antes ou depois da data esperada, e a mulher deve ser aconselhada a procurar a Unidade de Saúde para avaliação clínica, se sua próxima menstruação for bastante diferente da usual, especialmente se for escassa, dolorosa, ou se não ocorrer dentro de quatro semanas. Importante advertir que a AE não protege das doenças sexualmente transmissíveis/HIV (1,2).

Na hipótese de falha da AE, deve-se considerar que o tratamento é administrado muito antes do início da organogênese, fase do desenvolvimento fetal de maior vulnerabilidade à ação de agentes teratogênicos. Nesses casos, os estudos clínicos têm comprovado a segurança da AE, não registrando maior incidência de anomalias fetais (1).

A atenção em anticoncepção pressupõe a oferta de informações, de aconselhamento, de acompanhamento clínico e de um leque de métodos e técnicas anticoncepcionais, cientificamente aceitos, que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, para homens, mulheres, adultos(as) e adolescentes, num contexto de escolha livre e informada (2).

Abordar a saúde reprodutiva é uma ação básica de saúde. No contexto da APS, é importante permitir o livre acesso, encorajando a mulher, o homem ou o casal para que se sintam à vontade em retornar à Unidade de Saúde quando quiserem – por exemplo, caso tenham problemas, dúvidas ou queiram trocar o método contraceptivo; caso tenham alguma alteração na saúde; ou se a mulher achar que pode estar grávida (3).