Um estudo de estrutura de comunidades em fitocenoses originarias da exploração e abandono de pantios de eucalipto, localizadas no Horto Florestal Navarro de Andrade, Rio Claro (SP)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1999

RESUMO

Neste trabalho é apresentada uma análise do banco de sementes do solo, da estrutura florística e fitossociológica de quatro comunidades que se formaram em decorrência do plantio, exploração e abandono de talhões de eucalipto, situados no Horto Florestal Navarro de Andrade (Rio Claro - SP). Tais áreas correspondem a um talhão de E. citriodora de 9 anos (área I), dois de E. tereticornis de 82 anos (áreas II e 11I), e um talhão de E. microcorys de 39 anos (área IV). Para a avaliação do banco de sementes foram coletadas 130 amostras de solo, a uma profundidade de 5 cm, ao longo das trilhas que cortam o sub-bosque dos talhões estudados. As amostras de solo foram expostas em caixas de 56cm x 36cm x 10cm no interior de um viveiro que interceptava 50 % da luz solar, e acompanhada a germinação das sementes pelo período de um ano. No levantamento da vegetação foram distribuídas aleatoriamente, ao longo das trilhas, 10 parcelas de 10 x 10m para amostragem do estrato arbóreo, 10 parcelas de 6 x 6 m para amostragem do estrato arbustivo e 10 de 2 x.l m para amostragem do estrato herbáceo. As parcelas de 6 x 6 m e de 2 x 1 m ficaram circunscritas na parcela de 10 x 10m. Foram incluídos no estrato arbóreo, todos os indivíduos lenhosos com 10 cm ou mais de perímetro na altura do peito (P AP), no estrato arbustivo foram listados aqueles com menos de 1 cm de P AP e com 1 m ou mais de altura, no estrato herbáceo foram amostrados todos aqueles com menos de 1 m de altura, incluindo-se plântulas e indivíduos jovens de espécies herbáceas ou lenhosas. Nas parcelas de 10 x 10m, foram feitas coletas de solo na profundidade de 0 a 20 cm, para análises física e química e realizadas quatro leituras do espectro luminoso na faixa de 400 a 800 nm para caracterização das áreas quanto à razão vermelho/vermelho extremo e a densidade de fluxo de fóton fotossintético. Um total de 6.219 sementes do banco germinou, envolvendo 164 espécies correspondentes a 53 famílias. Os valores de diversidade para o banco variaram de 2,53 nats/ind. (área II) a 2,75 nats/ind. (área IV). O índice de equidade foi baixo, indicando a dominância por parte de algumas espécies no banco, variando de 0,60 (área I) a 0,65 (área 11). O banco das comunidade secundárias estudadas do Horto caracterizou-se pelo predomínio de espécies herbáceas e pequeno número de espécies arbóreas , em geral, pioneiras, o que é comum às comunidades em pleno processo de sucessão. Na vegetação foram amostradas 63 espécies na área I, 84 espécies na área II, 109 espécies na área III, e 92 espécies na área IV. A amostragem de lianas elevou significativamente o número de espécies levantadas nestas comunidades secundárias. Uma análise comparativa das espécies que ocorreram em mais de um estrato da vegetação mostrou que nas áreas II e lU essas espécies representaram 45,24% e 43,12%, respectivamente, do total de espécies amostradas, ficando as áreas I e IV, respectivamente, com os percentuais de 36,51 % e 37,37%. Na área I a maior parte destas espécies é representada por herbáceas (34,78%), lianas (21,74%) e arbustos (17,39%). Enquanto que na área IV as lianas destacam-se pela maior percentagem de espécies que se repetiram nos diferentes estratos (40,54%), ficando o restante dos hábitos (espécies arbóreas, arbustivas, sub-arbustivas e herbáceas) com contribuições entre 11,8% e 13,51 %. Fica clara a maior expressão das espécies arbóreas e das lianas nas áreas II e III (que somam, respectivamente, 76,32% e 80,86%), em relação aos demais hábitos. O índice de diversidade de Shannon alcançou o seu valor mais inferior no estrato arbóreo da área I (0,086 nats/ind.) e seu valor máximo no estrato arbustivo da área III (3,45 natslind.). Os talhões mais antigos (áreas II e III) são mais semelhantes quanto à estratificação vertical, estrutura florística, hábitos das espécies amostradas, grupos sucessionais de espécies, com alta porcentagem de espécies raras e a presença marcante de lianas, sendo os dois últimos aspectos freqüentemente citados para as florestas do interior do estado de São Paulo. Tanto a análise de agrupamento (UPGMA) quanto a análise de ordenação (DECORANA) apresentaram resultados congruentes, sugerindo para o estrato arbóreo maior proximidade florística entre as áreas I e IV e II e III entre si, ficando a área IV numa posição intermediária em entre as áreas mais velhas (II e III) e a área mais nova ( I ). Para o estrato arbustivo e herbáceo a diferenciação florística entre as parcelas é alta, tanto dentro das áreas quanto entre as áreas. A ordenação das parcelas em função dos dois primeiros eixos da análise de componentes principais (PCA), calculada a partir dos parâmetros físicos e químicos do solo, assim como também dos dados de luminosidade, indicou uma maior proximidade entre as áreas II e III, ficando estas separadas da área I e da área IV. Através da caracterização fitossociológica das áreas analisadas do Horto, quatro questões foram consideradas, sendo expostas a seguir. 1 - A composição floristica do banco de sementes seria diferenciada entre comunidades de idades distintas? A composição em espécies do banco de sementes variou entre as áreas, tendendo a aumentar sua similaridade florística na medida que a idade da comunidade, quando relacionadas, tornava-se menos discrepante, ou seja, bancos de mesma idade ou idades aproximadas, em geral, foram mais similares do que bancos de comunidades de idades distintas. 2 - Podem as comunidades estudadas abrigar espécies arbóreas que ocorrem nos fragmentos da região. propiciando sua regeneração e dando condições para o estabelecimento desde a fase de plântula até a de indivíduo adulto? Diferentes espécies que fazem parte das listagens florísticas de fragmentos de mata mesófila são encontradas no interior dos talhões mais velhos e com menor densidade de eucalipto (áreas II e lU), ocorrendo tanto no estrato arbóreo quanto no herbáceo, onde estão representadas por seus indivíduos jovens. Nos talhões mais novos e com alta densidade de eucalipto (I e IV) a representação dessas espécies através de seus regenerantes, já é mais restrita, ficando o talhão mais novo (área I, com 9 anos) com o total predomínio de herbáceas sem nenhum regenerante de espécies arbóreas no estrato herbáceo. 3 - Entre áreas de idades distintas a vegetação de sub-bosque se diferenciaria na composição dos grupos sucessionais de espécies arbóreas? Observou-se uma marcante diferença no predomínio dos grupos sucessionais entre áreas de idades distintas. As áreas I e IV guardam características de comunidades pioneiras. No entanto, a área I, mais nova (com 9 anos), apresenta um total predomínio de invasoras nos estratos arbustivo e herbáceo, ficando a área IV (com 39 anos) com o destaque de algumas espécies pioneiras no estrato arbóreo e a presença de diferentes grupos sucessionais no estrato arbustivo, mas no estrato herbáceo, ainda, ocorre a maior expressão de lianas e invasoras. As comunidades secundárias das áreas II e III (ambas com 82 anos) em oposição as das áreas I e IV, possuem uma maior percentagem de indivíduos e espécies nas categorias SI/ST (secundária inicial/secundária tardia), ST (secundária tardia) e ST/CL (secundária tardia/climáxica), mostrando-se numa condição mais avançada do processo de sucessão. 4 - Haveria uma relação entre a florística do banco de sementes e aquela descrita para a vegetação? A relação florística entre o banco e a vegetação correspondeu a baixos valores de similaridade, não sendo observada, segundo indicações da literatura, uma diminuição dessa similaridade em direção às comunidades mais antigas.

ASSUNTO(S)

regeneração (biologia) florestas comunidades vegetais

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