Um grito para o céu: arte e pensamento em Crônica da casa assassinada / An shout for the sky: art and thought in Chronicle of the as-sassinated house

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Nesta dissertação, procedemos a uma análise das imagens ficcionais da idéia de arte que podem ser depreendidas do romance Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso. A partir da constituição da protagonista Nina nas mais importantes narrativas que compõem essa obra, procuramos estabelecer uma espécie de analogia entre o pensamento artístico e o pensamento filosófico sobre a obra de arte, de modo a propor uma reflexão em torno das relações entre esses dois tipos de conhecimento. Assim, partindo do ponto de vista segundo o qual Nina consiste em imagem literária da idéia filosófica de arte, empreendemos, no primeiro capítulo, um estudo comparativo entre as conjecturas em torno dessa personagem por quatro narradores do romance (Timóteo, Betty, Ana e André) e as visões de quatro filósofos sobre a obra de arte (Platão, Kant, Nietzsche e Heidegger). Em todos os tópicos dessa análise, nosso foco é a relação entre beleza e verdade, que é o principal aspecto da discussão filosófica sobre a arte, e que, a nosso ver, é simbolizada por Nina em Crônica da casa assassinada. No segundo capítulo, desenvolvemos uma discussão em torno do problema da morte da arte decretada por Hegel, procurando lançar uma luz sobre a relação entre tal problema e a concepção trágica assumida por Lúcio Cardoso nesse que é o seu mais importante romance. Com base no sentido filosófico e antropológico do trágico, a partir de autores como Werner Jaeger, Albin Lesky, Gerd Bornheim e Emil Staiger, investigamos os discursos sobre a morte que aparecem em Crônica da casa assassinada, a fim de verificar a posição de cada um dos narradores estudados em relação ao problema da transcendência, que aqui é considerado em seu vínculo com o fundamento religioso da arte. No terceiro capítulo, procuramos defender a noção de arte como projeto, que, na nossa opinião, recobre o sentido mais amplo da obra de Lúcio Cardoso. Considerado a partir de um ponto de vista existencialista de base sartreana e heideggeriana, o projeto vem a consistir na possibilidade de auto-superação por parte do escritor no sentido de, mediante um pensamento fragmentado e multifacetado, desenvolvido em termos de romance, desvendar a sua verdade pessoal e, ao mesmo tempo, construir uma nova idéia de homem, tendo que, para isso, relativizar ou mesmo colocar em xeque a existência de Deus, tão cara à sua visão eminentemente cristã.

ASSUNTO(S)

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