Variação geográfica no canto de três espécies de Oscines (aves), ao longo da BR-174, na região centro-norte da Amazônia.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A variação no canto de três espécies de aves Oscines foi estudada, buscando entender o efeito de diferentes escalas de distância geográfica, do tipo de paisagem e da presença do Rio Branco (atuando como possível barreira geográfica) sobre diferentes parâmetros do canto. Espécies de diferentes famílias e, portanto, com morfologia, fisiologia e comportamento distintos foram escolhidas a fim de comparar os padrões encontrados entre elas (Cyclarhis gujanensis, Saltator coerulescens e Troglodytes musculus). O estudo utilizou um transecto latitudinal de 1140 km e 16 pontos de amostragem, de Manaus a Pacaraima. A paisagem foi classificada em dois domínios principais: floresta de Terra Firme (caracterizando ambiente acústico fechado) e savanas (caracterizando ambiente acústico aberto). Os principais parâmetros do canto analisados foram: freqüência maior, freqüência máxima (ou peak frequency), duração e número de notas do canto. Além disso, em S. coerulescens e T. musculus foram analisados os tipos de notas do canto. Análises estatísticas exploratórias (ordenação direta, análise de Cluster e PCA), teste de Mantel e estatística univariada (ANOVA e Teste t) foram utilizados para comparar e avaliar as diferenças nos cantos. As espécies mostraram diferentes padrões de variação no canto. C. gujanensis demonstrou relativa constância nos tipos de notas em todos os pontos de amostragem. No entanto, a freqüência maior, a duração e o número de notas do canto foram maiores nas áreas de savana do que na paisagem florestal, corroborando algumas previsões da Hipótese de Adaptação Acústica. O Rio Branco pareceu separar populações de C. gujanensis em relação ao número de notas do canto: aves gravadas na margem direita cantaram maior número de notas do que as aves da margem esquerda. Indivíduos de S. coerulescens gravados na porção mais sul do transecto exibiram cantos muito diferentes dos indivíduos gravados ao norte e a espécie esteve ausente na porção média do transecto. A freqüência do canto de S. coerulescens mudou com a paisagem: aves de floresta tiveram menores valores de freqüência máxima e freqüência maior do que aves de savana. Os dialetos de canto dessa espécie provavelmente coincidem com a distribuição de diferentes sub-espécies que possivelmente estão estendendo sua distribuição através da BR-174 e do Rio Branco. Parâmetros quantitativos do canto de T. musculus não mudaram com a paisagem ou presença de barreira geográfica, mas alguns tipos de notas variaram com a distância geográfica. A estrutura do canto nas três espécies exibiu diferentes padrões de variação em relação à distância geográfica, tipo de paisagem, r presença de uma barreira geográfica. Estes resultados, usando espécies de diferentes famílias com histórias evolutivas únicas e requerimentos ecológicos distintos, demonstram que padrões de variação no canto de aves Oscines são complexos e dependem de uma diversidade de fatores evolutivos e ecológicos.

ASSUNTO(S)

dialeto savanas hipótese de adaptação acústica zoologia floresta de terra firme rio branco oscines canto distância geográfica

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